As coincidências, embora muitos apostem o contrário, existem, sim. Ontem eu assisti, pela terceira vez, ao filme Munique, de Steven Spielberg. Fiquei sabendo que, hoje, 5 de setembro, o atentado terrorista que deu origem ao filme comemora – não sei se esse é o termo adequado – 48 anos. O grupo terrorista palestino Munaẓẓamat Aylūl al-Aswad (Setembro Negro) sequestrou e deu cabo de onze atletas israelenses num ataque surpreendente à vila Olímpica de Munique, durante os Jogos Olímpicos de 1972, naquela cidade.
A primeira ministra linha-dura Golda Meir queria a intervenção das forças especiais – o temido Tzahal -, mas os alemães recusaram. O massacre aconteceu sob os olhos de todo o Ocidente e, num certo sentido, mostrou a fragilidade tanto de Israel quanto da polícia alemã. O filme gira em torno da forra: um ex-agente do Mossad, a mais especializada polícia do mundo, sai pelo mundo em busca dos responsáveis pela tragédia. É, enquanto triller policial e trama de suspense, uma obra-prima. Quando Spielberg resolve fazer filmes adultos o resultado é positivo. A Cor Púrpura, A Lista de Schindler e The Post comprovam, isso. Há outros, claro.
O que chama a atenção – ao menos pude ater-me, nessa (re)visão – é que a frieza de pessoas treinadas pelo Mossad não é proporcional a eficácia com que cumprem seu papel nacional. As tensões humanas afetam qualquer um, e sob circunstância previsíveis ou não. A personagem de Eric Bana – ótimo, em cena – vive uma situação pessoal que afetaria qualquer um: é obrigado a abandonar a esposa, grávida, além de mudar a própria identidade. Mesmo fora do Mossad, o orgulho patriótico fala mais alto: algo que só se vê, tão declaradamente, em filmes nos quais os norte-americanos, heróis por natureza, são os protagonistas.
A caça aos membros do Setembro Negro, fio que conduz a película, tem um sabor especial. É uma aula de estratégia, de maquinações terroristas, de eficiência policial. Os 5 “caçadores” – entre eles o futuro James Bond Daniel Craig – são inteligentíssimos e talentosos, correndo o mundo (Chipre, Itália, Líbano, Grécia, França), determinados a cumprir uma tarefa que, na verdade, não é deles. É impressionante o diálogo entre o líder do grupo e a chefona Golda Meir. Orgulho e vingança acima de tudo. Um filmaço que apreciei assistir novamente e, por isso, você lê este texto.