Começo dizendo que Brad Pitt é um ladrão. Depois justifico. Em segundo lugar: Terry Gillian, o diretor, fez fama no grupo inglês de humor Monty Python, é um ator meio sem graça, mas, como diretor, é competente e, por vezes, genial. Assista a Brazil O Filme e depois conversamos. Bruce Willis e a inacreditavelmente bonita Madeleine Stowe estrelam a aventura futurista Os Doze Macacos, cheia de flash-backs e citações, com um pé nas maluquices cerebrais de Chris Marker, o cineasta francês autor de La Jetée (O Cais, em bom vernáculo) e outro pé nas maluquices do próprio Gillian. A propósito: Gillian não assistiu a La Jetée.
Zapeando a tevê, sem qualquer pretensão vespertina, peguei o comecinho, ainda nos créditos iniciais, de Os Doze Macacos. Um filme estranho, de narrativa séria com doses de humor ora refinado, ora escancarado como uma boca dentuça. Animei-me a rever, já que tinha assistido à película em VHS, numa época que, hoje, parece tão jurássica quanto os velhos lagartões de outrora. Bruce Willis, claro, é Bruce Willis, o homem que não se fragiliza, o herói ateniense, o paladino que enfrenta exércitos. Vai e volta no futuro como se isso fosse a coisa mais frugal que há.
O tema é atualíssimo: um vírus assola o planeta, modificando-o, eliminando os humanos – claro. O herói volta no tempo com o objetivo de entender como esse vírus atacou o planeta. No passado, ele, Willis, não passa de um maluco em quem a personagem de Madeleine Stowe, médica e pesquisadora, acredita. E a crença dela dá motor ao filme. No hospício, Willis contracena com Brad Pitt, que rouba a cena todas as vezes em que aparece – daí ser o ladrão mencionado na primeira frase desta postagem. A propósito, Madeleine Stowe é esse belezura aí, mais luminosa do que nunca:
Tudo bem: o papel de Pitt – um maluco de queimar dinheiro – proporciona atuações capazes de atrair toda a atenção, de magnetizar o público. Está brilhante, entretanto. Bruce Willis, sempre fazendo o papel de si mesmo, contracena bem. Tem o olhar vago dos viajantes no tempo, pasmos com o que os seres humanos fizeram ao lar de todos os seres vivos. Se você espera um final edificante, daqueles em que a indulgência dá lugar ao apocalipse, esqueça. Esqueça também se espera o apocalipse.
Se estiver zapeando – pode ser nesse próximo feriado -, e diante de você esse filme de o ar da graça, não vá ao próximo canal. Além de `Pitt, Willis e Stowe, há a chance sempre benéfica de ver Christopher Plummer em ação. Não perca, se puder.