Ruy Castro, em seu interessante livro Saudades do Século XX, aponta – próprio juízo – algumas figuras (ligadas à arte) que ele considera fundamentais para que o século passado tenha tido a cara que teve. Dashiell Hammett, Frank Sinatra, Mae West e outros compõem a lista. Ao escrever sobre Sinatra, obrigou-se a falar sobre as relações amorosas conturbadas que povoaram sua biografia: da insípida Mia Farrow ao vulcão ativo chamado Ava Gardner. Ei-la:
Daí me veio a ideia de escrever, na primeira postagem do ano, sobre esta última, a quem Jean Cocteau, o célebre diretor-poeta-escultor-dramaturgo-cenógrafo-ator-pintor, chamou de o mais belo animal do mundo. E é possível que estivesse certo. Todo superlativo, como qualquer professor de gramática sabe, carrega em si o grau da comparação. Claro que Ava Gardner competia, em sua época, com outros animais de estirpe nobre: Cyd Charisse, Hedy Lamarr, Kim Novak, Lauren Bacall, Betty Grable e Marilyn Monroe. Sem contar as europeias (algumas em começo de carreira e no frescor de sua beleza) Anita Ekberg, Anouk Aimée, Silvana Mangano e Ingrid Bergman. Um seleção que faria um adolescente normal tomar banhos intermináveis.
Sua biografia é longa, mas pode ser resumida: fez mais de 60 filmes, não ganhou Oscar, casou-se três vezes – com o ator Mickey Rooney, com clarinetista e regente Artie Shaw e, por último, com Frank Sinatra, cujo relacionamento foi marcado por ciúmes (dele) e por três abortos. Era amiga de Hemingway, em cuja casa cubana se hospedou e na qual tomava banhos de piscina, nua, enlouquecendo o velho escritor suicida. Também em Cuba – já no país revolucionário –, conheceu Fidel e, se tivesse tido vontade, teria transformado o barbudo líder num pracinha babão. Mudou-se para a Europa – amava a Espanha e Londres – e por lá ficou, numa saudável e espontânea clausura, até morrer em 1990, um ano após ter tido um derrame.
Mas o assunto deste texto é a beleza luminosa de Ava Gardner – e não sua vida fogosa. Dia desses, ao (re)assistir a O Aviador, de Martin Scorsese, deparei-me com a bela Kate Beckinsale fazendo as vezes de Ava. Injustiça, a meu ver. Mas fica a pergunta: que mulher poderia impor na tela a refulgência e a beleza magnética da mais bela de todas as atrizes do cinema?