A única antologia, por enquanto

Vamos ao óbvio: só se deve enumerar um artigo se houver outros exemplares dele. Se for único, não faz sentido chamá-lo “primeiro”. Sim, falei algo dispensável, implícito em qualquer discurso. A editora Paz  e Terra, entretanto, pensa diferentemente. Aliás, sendo honesto: o problema não é da editora brasileira, mas da própria revista mundialmente conhecida e respeitada: The New York Review of Books. Vou explicar: em 1997, adquiri um livro que saía do forno: a edição brasileira de uma reunião de artigos publicados, por 30 anos, do citado veículo.

Se você que está lendo se interessa por cultura, arte, política, sociologia e uns nacos de filosofia vai apreciar a seleção de artigos feita por Robert Silvers, Barbara Epstein e Rea Hederman. Algumas perguntas iniciais devem ser feitas. Quem escreve? Sobre o que e sobre quem se escreve? Como se escreve? Esta última pergunta é fácil de responder: escreve-se bem. Alguns textos são absurdamente bem escritos – chega a dar inveja, ao menos a mim. As duas primeiras perguntas podem ser respondidas ao mesmo tempo.

Para se ter uma breve ideia: o crítico de arte Robert Hughes escreve sobre Andy Warhol; o poeta Wystan Auden versa sobre enxaquecas, enquanto o polêmico Gore Vidal fala sobre aviação em A Paixão de Voar. É um prazer saborear cada parágrafo da entrevista que o maestro Robert Craft faz com o sempre genial Igor Stravinski: o assunto é Beethoven e suas sinfonias. Richard Ellmann, claro, fala sobre Joyce, e meu texto preferido, Balzac aos trinta anos, é escrito pelo brilhante crítico inglês V. S. Pritchett.

Falei em preferência textual, mas é difícil escolher, dentre 23 artigos, qual o mais interessante. Eu não conheço uma revista literária com tamanha envergadura intelectual, capaz de abraçar tanto talento pontuando ideias que interessam não somente aos iniciados, mas a qualquer um que enxergue na boa leitura prazer e benefícios. Em tempos de boçalidade escrita e falada, de superficialidade de ideias, de enaltecimento dos medíocres, o New York Review of Books é um foco necessário de resistência.

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Francisco Grijó

Francisco Grijó, capixaba, escritor, professor de Literatura Brasileira. Pai de 4 filhas.

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