Fiquei alguns anos me preparando para escrever sobre aquele que considero o maior escritor latino-americano: o cubano Alejo Carpentier. Bem, afirmar que ele é o maior é juízo de valor e, portanto, subjetivo. Um querido amigo disse que ser o maior num país que produziu Lezama Lima e Cabrera Infante não é fácil. Concordo: mantenho a afirmação, entretanto. Carpentier tem a elegância e a erudição necessárias aos grandes escritores – sem deixar, claro, que tais elementos o afastem de leitores menos exigentes, mas que apreciam a arte literária. Antes que me apedrejem: escritores inteligentes escrevem para leitores inteligentes.
Fiz referência a ele ao escrever sobre Antonio Vivaldi, numa postagem recente. Concerto Barroco é uma obra-prima, que se aproxima de uma outra, intitulada A Sagração da Primavera, dois livros que nascem da música e vivem por ela. Isso sem contar El Acoso, que ganhou tradução como O Cerco, e que versa sobre política e, claro, música. Alejo Carpentier era um sujeito de muitas caras (no ótimo sentido): era jornalista apaixonado por arquitetura, música e pintura. Lia partituras e versava sobre pintores expressionistas com propriedade.
E era um escritor extraordinário, cujo barroquismo da linguagem pode parecer, de imediato, difícil (e um tanto fastidioso). Seus livros (li alguns) não me assombraram inicialmente – com exceção para o citado Concerto Barroco -, e me obrigaram, não sem paciência, a esperar os enredos ganharem ritmo. Aconteceu com A Sagração da Primavera, uma história de amor entre um cubano revolucionário e uma bailarina russa. Aconteceu com O Cerco, narrativa curta cuja base é a Eroica, terceira sinfonia de Beethoven.
Carpentier escreveu La Musica en Cuba. Não conheço a obra, mas imagino que sua pesquisa deva ter a profundidade necessária ao esclarecimento pleno dessa específica arte. Em O Músico em mim, um retrato extraordinário da relação entre o romancista e a música, Alejo Carpentier expõe seu conhecimento vastíssimo sobre a música clássica do século passado, mas isso é papo para uma outra postagem. Fique com A Sagração da Primavera, com Concerto Barroco e com O Cerco. Ou, ao menos, um deles.