Li, não sei quantas vezes – creio que umas oito ou nove! – o livro Breakfast of Champions, de Kurt Vonnegut, Jr. No Brasil, saiu com o título de Almoço dos Campeões, numa edição que possuo, da finada editora Artenova, de 1973. Comprei na antiga (também finada) Livraria Capixaba, que ficava na Nestor Gomes, em 1981. É o melhor livro de Vonnegut – e quem fala aqui é um leitor voraz desse autor. De sua autoria, só não li a novela Sun Moon Star, os livros de contos Look at the Birdie, Palm Sunday e Canary in a Cathouse, a não-ficção Is This Isnt’t Nice, What Is?: Advice to the Young e as peças teatrais Between Time and Timbuktu, Fortitude e Happy Birthday, Wanda June! O resto (os outros 32 livros) está aqui, na lembrança da ótima leitura.
Kurt Vonnegut é uma de minhas obsessões literárias – assim como Julio Cortázar, Nelson Rodrigues, Murilo Rubião, Alejo Carpentier, Cabrera Infante, J. D. Salinger e Norman Mailer Na poesia, Alexandre O’Neill e João Cabral. Alguém já me criticou, afirmando que só leio autores do século XX. Errado. Se o verbo fosse preferir, eu concordaria, porque Balzac, Twain, Verga, Flaubert e Machado moram no meu coração. O papo, contudo, é sobre Vonnegut, cujo livro citado – meu preferido – foi recomprado numa livraria de aeroporto, com uma nova capa. Aquela, da Artenova, que ainda possuo – e que traz um outro título -, é assim:
A outra, comprada enquanto esperava o voo, e com a releitura iniciada, é esta:
Ok, ok: quem leu o livro compreendeu que usei um recurso que o próprio Vonnegut usou. Palavras e imagens criando um universo carregado de ironia, metalinguagem, narrativa aparentemente simples e dois enredos, que acabam por se comunicar por conta da ficção científica. Mais do que isso não digo. Retomando a ideia da narrativa aparentemente simples. Alguém disse – creio que tenha sido o jornalista Telmo Martino – que tudo o que é fácil de ler é difícil de escrever (e vice-versa). Vonnegut talvez seja a prova disso. Seus parágrafos parecem ter sido escritos sem a pretensão intelectual tão comum a escritores. É tão simples que chega a parecer que um escritor comum pode escrever aquilo. Esqueça. Se você é escritor, esteja certo: você não pode!
Café da Manhã dos Campeões é uma delícia de ser lido – e uma delícia ainda maior de ser relido. As personagens têm a caracterização necessária à curiosidade do leitor, e suas ações, todas elas aparentemente corriqueiras, trazem particularidades ora divertidas, ora apavorantes, como por exemplo o milionário bipolar dotado de ecolalia, ou o escritor de ficção científica cujos livros nunca foram lidos por ninguém – exceto pelo milionário bipolar dotado de ecolalia. O encontro entre os dois é de uma tristeza capaz de gerar riso. Relendo, lembrei-me de algumas passagens que me levaram a adiantar as páginas para encontrá-las. Que erro! Reler um livro de Kurt Vonnegut é surpreender-se com aquilo que pensou ter lido. Vou confirmar isso mais uma vez daqui a 10 anos.