Eric John Ernest Hobsbawm era feio de doer, mas isso não importava porque sua ocupação intelectual não incluía passarelas nem salões de beleza. O negócio dele era escrever – e bem – sobre História. Marxista até a medula, escreveu clássicos que orientaram gerações: A Era das Revoluções, A Era do Capital, A Era dos Impérios e A Era dos Extremos, e este último plantou a ideia genial de que o século XX não tem cem anos. Cheguei a seus escritos não por tais mencionados clássicos, mas por outro exemplar – que para mim se tornou mais que definitivo: História Social do Jazz.
O jazz é minha área de interesse há quase quarenta anos. Meu primeiro disco, uma coletânea de Miles Davis, foi adquirido na antiga Discoteca do Messias, centro de Vitória, próxima ao palácio do governo, em 1982. A música de Miles levou-me ao ilimitado mundo desse querido e basilar gênero, que incluiu também literatura, fotografia, cinema, dança. E justamente por isso, e também porque ontem foi dia 9 de junho – nascimento de Eric Hobsbawm -, escrevo esse texto, e falo sobre o livro que mencionei no primeiro parágrafo.
O título já deixa claro: é história social, e vista pelo olhar de um estudioso que compreende a luta de classes como ferramenta essencial para que o mundo continue a dar voltas. Diferentemente de outros livros, ou muitos deles, que optam por trazer informações sobre trios, quartetos, quintetos, orquestras, arranjadores, instrumentistas, estilos etc., este livro vai além: mostra social e politicamente como o jazz passou a fazer parte da vida quotidiana dos negros, como adentrou o mundo caucasiano, como foi à falência por conta do rock e como deu a volta por cima – fundindo-se justamente a esse último gênero citado. Criou-se o fusion.
Resumir um livro já é difícil. Um monumento, então, nem se fala. Aí vai, entretanto: o livro se divide em 4 partes – História, Música, Negócios e Gente – e faz um apanhado das origens, referências, locais, influências, estilos, produtores, agentes, clubes, músicos e, claro, de como o jazz se manteve enquanto agente econômico sujeito a oscilações de mercado e de como – profetizou ele – se tornaria indústria. Enfim, Eric J. Hobsbawm escreveu o livro definitivo sobre o jazz. Fugiu dos clichês, como disse seu prefaciador Luís Fernando Verissimo, escritor e fulminantemente apaixonado por jazz. No prefácio, ele termina afirmando Leia-o, Leia-o! Eu segui esse conselho à risca.