Qual o ponto alto de um show de rock? Quando o guitarrista ataca um solo monumental, daqueles que ninguém imita? Quando o vocalista, qual um tenor de ópera, arrisca um dó de peito e acerta em cheio? Naquele momento em que o baterista, à moda de Keith Moon, faz o instrumento eternizar-se? Cada espectador, claro, escolhe o momento primordial, inesquecível. Eu, por exemplo, escolhi – durante a apresentação da banda Titãs, em Vitória, ES, no último fim de semana – o instante em que Charles Gavin, batera do grupo, surrou os couros vestindo a camisa do meu time do coração, o doméstico Rio Branco.
Não sou um fã dos Titãs. A bem da verdade, quando surgiram, inaugurando, junto a outras bandas, o movimento BRock, no início dos anos 1980, não fui na onda. Embora gozando os meus 20 anos, mantive-me no gênero que havia me capturado (3 anos antes): a MPB. Chico Buarque, Gil, Caetano, a dupla Toquinho & Vinicius, Tom Jobim e Belchior valiam muito mais do que Renato Russo, Cazuza, Arnaldo Antunes e Nando Reis. Sim, claro, era – e ainda é – uma opinião. A bem de uma outra verdade: abstive-me da contemporaneidade, desconfiei da “revolução musical” que encheu o coração da juventude brasileira. Ignorei o movimento em si. Eu e minha senectude, disse-me uma amiga, certa vez.
Por curiosidade: ouvi a banda com bons ouvidos a partir do início dos anos 2000. Minha mulher – namorada, à época – apresentou-me a banda e, claro, a forma apaixonada como ela consumia música & letras contagiou-me – num certo sentido. Não, não foi suficiente para eu me tornar um ardoroso entusiasta, mas amoleceu meu coração. O show foi bacana – muito mais por resumir uma carreira de sucesso e trazer à superfície a memória afetiva de uma plateia que ali estava justamente para isto: lembrar-se de momentos vividos à custa das canções. E, evidentemente, emocionar-se.
Por falar em emoção, a homenagem ao falecido guitarrista Marcelo Fromer – sua filha Alice subiu ao palco, e cantou -, e ouvir Branco Mello cantar (vítima que foi de um tumor na laringe) deram o tom sentimental – mas nem de longe piegas – ao encontro de artistas que, marcados pela honestidade musical e pela satisfação inequívoca de fazer um bom trabalho, tornaram o público feliz por 140 minutos. Sim, repito: foi um show bacana: não me arrependo de ter ido. Não chegarei a me tornar fã ou consumidor, mas valeu ter testemunhado a História. Valeu, Titãs! E valeu, Charles, por vestir a camisa do meu time.