Filmes (re)vistos #8: O Baile, 1983

Para muita gente, Grease – ou Nos Tempos da Brilhantina – é o melhor musical já feito. Inegavelmente simpático e uma estrondosa máquina de fazer dinheiro, o filme tem um trunfo: o rock, gênero que a juventude preza e consome. Escrevi sobre musicais: quem quiser pode verificar AQUI. Mas por que estou falando sobre essa vertente cinematográfica? Porque assisti, mais uma vez – dentre tantas -, ao filme O Baile, do italiano Ettore Scola – para mim, obra-prima, daquelas que quem ama o cinema precisa assistir diversas vezes. Tenha certeza: o cansaço passa longe.

O Baile - Cenas de Cinema - Crítica do filme - Clássico

O Baile é o que é: um baile – ou seja: um evento em que música e dança unem-se para para entreter quem por ali se encontra. No caso, o filme vai além, porque seu objetivo (se é que precisa ter um) é contar a história da França a partir da união entre as duas artes citadas, conectando-as a suas causas e consequências: a cultura, o costume, o tempo, a história. A ousadia da película reside no fato de que palavras não são tão necessárias à comunicação. Música, gestos, comportamento e talento para unir tudo isso, sim.

O filme fará quarenta anos em dezembro – data de seu lançamento. Scola é craque: fez Nós que nos amávamos tanto e Feios, sujos e malvados. Só isso já lhe justificaria a celebridade, e seria suficiente para que não se sentisse na obrigação de dirigir a ótima comédia O Jantar. Voltemos, pois, ao baile. Há quem diga que, sem palavras, é impossível contar uma história. Balela de diletante, claro. Ettore Scola parte da ideia do contrário, transformando em narrador a combinação de cenário, vestimenta, gesto, expressões faciais e, claro, música. Sem legendas – porque elas são, aqui, desnecessárias -, a narrativa funciona: é poética, é engraçada, emotiva.

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As referências culturais, sublinhadas pela coreografia e pelos variados gêneros musicais, são expostas como um banquete sobre a mesa: todas as iguarias juntas, mas é possível eleger aquela que mais agrada, que mais se destina ao espectador que, tenha certeza, participa, a seu modo, da atmosfera que a música e o movimento provocam. Nem tudo é alegria, claro. Por exemplo: uma das cenas mais tocantes da película é o repúdio do(a)s dançarino(a)s – que batem os pés no assoalho, repetidamente – a um personagem vestido de preto (cicatriz num dos olhos), que levanta a mão numa menção ao nazismo. Eis a resistência. Esse é Scola.

A propósito: é possível assistir ao filme AQUI.

About the author

Francisco Grijó

Francisco Grijó, capixaba, escritor, professor de Literatura Brasileira. Pai de 4 filhas.

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