Pe. Toninho, estações, top 5 etc.

“Qual o top 5 da música clássica?”, perguntou-me um aluno. Evidentemente queria uma resposta plena de subjetividade, queria ter acesso a meu gosto pessoal. Falei, com tranquilidade, que Bach, Beethoven, Mozart, Handel e Vivaldi eram os que mais me impressionavam. Fiz questão de ressaltar que meu conhecimento de música erudita é tão limitado quanto meu conhecimento de qualquer gênero musical. Esse recato singelo – permitam-me o pleonasmo! – não pareceu ter qualquer efeito sobre ele. Bem, desses 5, três são barrocos: o que mostra minha predileção. já escrevi sobre ISSO.

Listas, e eu também já disse isso, são feitas para divertir: seja quem lê, seja quem as profere. Não significam parâmetro, exceto para seu cultor. Lembro-me de ter lido Concerto Barroco, do extraordinário escritor cubano Alejo Carpentier. No livro, narrativa curta, um dos personagens é o padre ruivo – também conhecido por Antonio Vivaldi. O epíteto se justifica: era padre mesmo, mas isso não o impediu de fazer a melhor música italiana da época. E olhe que conviveu com três titãs: Corelli, Albinoni e Domenico Scarlatti – só para citar os conterrâneos.

Vivaldi morreu num dia 28 de julho, há 282 anos. Sua música comprova a teoria de que a grande arte só é grande de verdade se vencer o tempo. Atemporal, serve a quem valorizar a sensibilidade, a quem tiver ouvidos para o que é a absoluta beleza. Sua música sacra é incomparável, suas cantatas não devem nada às de Bach, o grande ás na categoria. Tenho todas as sonatas e a maioria dos motetos – tudo em cedê, quando ainda se compravam discos digitais. Hoje o streaming disponibiliza tudo. Está mais fácil, de modo que não se justifica continuar ouvindo Jota Quest.

Os concertos para violino intitulados As Quatro Estações são o que mais se conhece de Antonio Vivaldi. São provavelmente a peça musical mais conhecida da música clássica, junto à introdução de Quinta Sinfonia, do velho Ludwig. Não se deixe enganar pela popularidade: as estações são concertos magníficos, absolutamente perfeitos em sua criação, e fazem parte da Opus 8, intitulada Il Cimento dell’armonia e dell’inventione. É uma declaração de amor à natureza, à musica, à poesia. Tudo de que a arte realmente necessita. Aliás, além de oxigênio e glicose, tudo de que nós – humanos – necessitamos.

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Francisco Grijó

Francisco Grijó, capixaba, escritor, professor de Literatura Brasileira. Pai de 4 filhas.

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