Mr. Wilson no castelo

Grupo Companhia das LetrasFiquei assombrado ao ler, em meados dos anos 1980, O Castelo de Axel, de Edmund Wilson. Assombrado duas vezes, na verdade. Uma delas: o acúmulo de informações que esse senhor possuía sobre o Simbolismo e seu mais icônico representante, Artur Rimbaud; a outra: o tamanho diminuto do meu conhecimento acerca do mesmo tema. Claro que Wilson não fala somente do enfant terrible Rimbaud. Joyce, Eliot, Gertrude Stein, Valéry, Proust, Yeats e Villier de L’Isle-Adam são avaliados/analisados pela inteligência robusta de um dos maiores críticos literários do século XX. Você deve se lembrar dele pelo estrondoso sucesso de um livro que poucos leram: Rumo à Estação Finlândia.

Todos esses escritores citados em O Castelo de Axel criaram a modernidade nas letras. Sem eles, é provável que ainda estivéssemos tateando as paredes do século XX, ruminando o ocaso serôdio do Realismo e estapeando a estética parnasiana. Foram eles, segundo Edmund Wilson, os responsáveis por uma estética que, diante da industrialização e da materialidade, buscaram a alternativa que moldou o século em que nasci: a imaginação. É dessa literatura imaginativa, num período de 60 anos – de 1870 a 1930 -, que o livro trata.

O Castelo de Axel - Edmund WilsonAo ler, pela primeira vez, eu já mantivera contato com as letras de Rimbaud, Eliot e o Joyce de Dublinenses. Cheguei a Eliot por meio de meu amigo Reinaldo, que criticara a tradução de Ivan Junqueira para The Waste Land. Sabia alguma coisa de Valéry, Stein e Yeats e ignorava solenemente Villier de L’Isle-Adam – exceto pelo poema dramático Axel, que inspirou o título do livro. Claro: há outros poetas sobre os quais versa – em especial Jules Laforgue e o sempre funestamente misterioso Tristan Corbiére. Edmund parece conversar com o leitor, mas cobra dele seriedade e conhecimento.

Não é fácil escrever sobre autores tão essenciais – e sobre suas obras. Há certo incômodo em apontar o dedo para defeitos (ou questionamento de virtudes) de obras que atravessam o tempo como ícones de um gênero literário: em especial o Ulysses, de Joyce, e Em busca do Tempo Perdido, de Proust. A segurança com que Edmund Wilson analisa autores e livros é inquestionável. E cheia de criatividade, alegria, inteligência. Wilson é tão essencial quanto os autores sobre os quais escreve.

Filmes (re)vistos #9: O Vento será tua herança, 1960

Um tipo de filme em que os americanos são imbatíveis: filmes de tribunal ou, como querem os nativos puristas, legal films. Há grandes películas, não se pode (nem se deve) negar: O Veredito e 12 Homens e uma sentença, ambos de Sidney Lumet; O Sol é para Todos, de Robert Mulligan; Testemunha de Acusação, do sempre genial Billy Wilder, e o brasileiro O Caso dos Irmãos Naves, de Luis Sergio Person. Todos grandes filmes. Há muitos outros, claro, mas nenhum – a meu ver – supera O Vento será tua herança, de Stanley Kramer, em cartaz numa dessas tevês por assinatura. E se o naturalista Charles Darwin mostraria o polegar, concordando comigo.

Vídeo: O Vento Será Tua Herança continua atual

O que Darwin tem a ver com o filme? Bem, o enredo é simples: professor de uma cidade pequena é condenado por ensinar aos alunos a Teoria da Evolução. Uma lei estadual, escrita e sancionada por criacionistas, não permite que o Evolucionismo interfira na educação bíblica dos alunos. Toda a cidade está contra o professor. Em seu desespero, e sem dinheiro para pagar um bom advogado, pede ajuda a um jornal de Baltimore – que, progressista, contrata um grande advogado para defendê-lo. Esse grande advogado é um dos maiores atores de Hollywood em qualquer época: Spencer Tracy (de cabelos brancos, na foto).

Não menos notável é Fredric March, interpretando um político oportunista que ajuda o promotor a tentar mandar de vez o professor para o xilindró. Quer mais? Gene Kelly – sim, o grande bailarino do cinema (abaixo, de colete) – faz o papel de E.K. Hornbeck, jornalista que vai cobrir, de forma cínica e debochada, o Julgamento do Macaco, como ficou conhecido o caso (verdadeiro) em que o filme se baseou. Não, Gene Kelly não dança, no filme. Está ótimo sem requebrar-se, fazendo as vezes de Henry Louis Mencken, o mais temido jornalista norte-americano da primeira metade do século XX. Já escrevi sobre ele AQUI.

Tesouros da Sétima Arte - "O Vento Será Tua Herança", de Stanley Kramer

Como sou um homem de letras, aprecio diálogos – aliás, são eles o grande trunfo do filme. A bem da verdade, filmes de tribunal sustentam-se na palavra, no raciocínio, na loquacidade, na esperteza do advogado e/ou do promotor. Bem, a estrutura da Commom Law americana ajuda esse tipo de fita, permite que as habilidades dos causídicos sejam a grande atração. Em O Vento será tua herança é isso que conta. É um embate raro de se ver nos filmes – a não ser naqueles excepcionalmente inteligentes.

AQUI, o trailer, com legendas.

Pe. Toninho, estações, top 5 etc.

“Qual o top 5 da música clássica?”, perguntou-me um aluno. Evidentemente queria uma resposta plena de subjetividade, queria ter acesso a meu gosto pessoal. Falei, com tranquilidade, que Bach, Beethoven, Mozart, Handel e Vivaldi eram os que mais me impressionavam. Fiz questão de ressaltar que meu conhecimento de música erudita é tão limitado quanto meu conhecimento de qualquer gênero musical. Esse recato singelo – permitam-me o pleonasmo! – não pareceu ter qualquer efeito sobre ele. Bem, desses 5, três são barrocos: o que mostra minha predileção. já escrevi sobre ISSO.

Listas, e eu também já disse isso, são feitas para divertir: seja quem lê, seja quem as profere. Não significam parâmetro, exceto para seu cultor. Lembro-me de ter lido Concerto Barroco, do extraordinário escritor cubano Alejo Carpentier. No livro, narrativa curta, um dos personagens é o padre ruivo – também conhecido por Antonio Vivaldi. O epíteto se justifica: era padre mesmo, mas isso não o impediu de fazer a melhor música italiana da época. E olhe que conviveu com três titãs: Corelli, Albinoni e Domenico Scarlatti – só para citar os conterrâneos.

Vivaldi morreu num dia 28 de julho, há 282 anos. Sua música comprova a teoria de que a grande arte só é grande de verdade se vencer o tempo. Atemporal, serve a quem valorizar a sensibilidade, a quem tiver ouvidos para o que é a absoluta beleza. Sua música sacra é incomparável, suas cantatas não devem nada às de Bach, o grande ás na categoria. Tenho todas as sonatas e a maioria dos motetos – tudo em cedê, quando ainda se compravam discos digitais. Hoje o streaming disponibiliza tudo. Está mais fácil, de modo que não se justifica continuar ouvindo Jota Quest.

Os concertos para violino intitulados As Quatro Estações são o que mais se conhece de Antonio Vivaldi. São provavelmente a peça musical mais conhecida da música clássica, junto à introdução de Quinta Sinfonia, do velho Ludwig. Não se deixe enganar pela popularidade: as estações são concertos magníficos, absolutamente perfeitos em sua criação, e fazem parte da Opus 8, intitulada Il Cimento dell’armonia e dell’inventione. É uma declaração de amor à natureza, à musica, à poesia. Tudo de que a arte realmente necessita. Aliás, além de oxigênio e glicose, tudo de que nós – humanos – necessitamos.

Adeus a Leny

Ouvi Leny Andrade pela primeira vez aos 25 anos, quando alguém – não me lembro quem – afirmou que ela cantava melhor que Carmen McRae, a qual eu ouvia com devoção, reverência. Indignado com a possível blasfêmia, e com a intenção inequívoca de contestar a afirmação, fui, com cautela, ouvir Estamos Aí, um elepê que a Odeon havia lançado em 1968, no qual havia duas canções de Marcos Valle, A Resposta e Banzo. Marcos Valle é uma fera desconhecida das gerações que enaltecem padres cantores, rappers, funkeiros, cantores sertanejos e que tais. Havia também gemas cristalinas como Deixa o morro cantar e Esqueça não, ambas de Tito Madi, e Razão de Viver, de Eumir Deodato e Paulo Sérgio Valle. Um discão!

Após a audição – cautelosa, repito -, fiquei em dúvida quanto à comparação com Mrs. McRae, mas cheguei à certeza de que Leny Andrade não lhe era inferior. No fim e ao cabo, para que comparar? Desde então saí garimpando discos de Leny – o que era difícil de encontrar até o advento do cedê, que trouxe, finamente, alguns de seus mais interessantes trabalhos, dos quais destaco Embraceable You, clássico dos irmãos Gershwin, em que brilham maravilhas como Stella by Starlight, Night and Day, The Shadow of your smile, The Man I Love, Misty e Autumn Leaves. É um disco de jazz, executado por uma das suas maiores intérpretes. Tenho vários outros discos dela: todos ótimos.

O vozeirão cantava tudo (em notas certas): do samba-canção à MPB; do blues à valsa, passando pelo jazz, pela balada, pelos ritmos latinos. Não conheço faixa em que ela tenha cantado rock, mas, caso o fizesse, colocaria muita gente no bolso. Leny Andrade fez fusion: jazz, Bossa Nova e samba tradicional andaram de mãos dadas, numa ciranda criativa e à base de improvisos: o que caracteriza a arte da voz. Ir de um lado a outro, de uma ponta à outra, mantendo-se firme e autêntica. Consagrada internacionalmente, respeitada por quem a ouviu, é a cantora brasileira mais reverenciada.

Leny morreu hoje, dia 24 de julho. Dependia de amigos (quase todos artistas reverentes) para tratamento de saúde. Nos últimos dois anos, fizeram-se lives de cantores e compositores, via YouTube, com o objetivo de fazer dinheiro para financiar sua terapêutica e os medicamentos. Sua música, contudo, fica para sempre para aqueles que amam o jazz e a música brasileira. Para mim, é, ao lado de Elizeth Cardoso e Elis Regina, a maior cantora brasileira. Ouvindo bem de perto, Leny Andrade supera as duas. Mais uma vez, entretanto: para que comparar, não?

Corso herdeiro de Whitman

Dos beatniks gosto de Ferlinghetti (pela poesia ousada e pulsante) e de Kerouac porque todos gostam. Não há, a meu ver, nenhum grande poeta naquela geração. São essenciais muito mais pela atitude e pela transgressão do que pelo valor literário, pela poesia pujante. Lembro-me de ter conhecido Corso et alli ao ler Alma Beat, um volume de ensaios escritos por Antônio Bivar, Eduardo Bueno, , Pepe Escobar, Roberto Muggiati, Reinaldo Moraes, Leonardo Fróes e o excelente Cláudio Willer – que traduziu o sempre difícil Lautréamont. A edição saiu pela L&PM, em 1985.

Entre 1954 e 1957, Gregory Corso escreveu mais de cinco mil poemas, segundo seu amigo e mentor Allen Ginsberg, e a maioria não prestava, não tinha vigor literário, era um emaranhado confuso de referências culturais e experiências obtidas nos orfanatos pelos quais passou na infância – sem contar o tempo na prisão durante a adolescência. Talvez isso o credenciasse a participar daquele grupo que inevitavelmente se formava no fim dos anos 1950, e que se tornaria tão famoso quanto literariamente questionável: os beatniks. Com o tempo, seu verbo se tornou mais sólido, as imagens se organizaram e a notoriedade – ao menos naquele nicho jovem norte-americano – veio naturalmente.

Fazendo uma faxina em minhas estantes – a falta de espaço obriga-me a tal -, deparei-me com um exemplar de Gasolina & Lady Vestal, do dito cujo. Não é um grande livro – até porque não conheço um grande livro beat -, mas a cuidadosa tradução de Ciro Barroso tornou o livro palatável, legível e apreciado por quem gosta de uma linguagem direta, ácida, de poucos adjetivos e advérbios bem colocados. Corso escreveu um romance (o qual não pretendo ler, intitulado The American Express) e algumas peças teatrais – todas elas com a marca linguística de sua poesia. Há em Gregory Corso muito de Richard Brautigan, a quem admiro e sobre quem já escrevi.

Apesar de Brautigan, Gregory Corso é, na verdade, herdeiro linguístico de Whitman, embora não tenha a expressividade e a relevância desse enormíssimo poeta. Os versos longos, a ausência de rima e, principalmente, a temática do humano que não compreende bem por que seus pares caminham sem rumo fazem esse novaiorquino trazer à tona a conexão entre a sensibilidade e a desilusão – aliás, uma como consequência da outra. Vou relendo Gasolina & Lady Vestal até que consiga compreender o que a realidade expressa e significa. Mr. Corso talvez me mostre, tanto tempo depois.

Filmes (re)vistos #8: O Baile, 1983

Para muita gente, Grease – ou Nos Tempos da Brilhantina – é o melhor musical já feito. Inegavelmente simpático e uma estrondosa máquina de fazer dinheiro, o filme tem um trunfo: o rock, gênero que a juventude preza e consome. Escrevi sobre musicais: quem quiser pode verificar AQUI. Mas por que estou falando sobre essa vertente cinematográfica? Porque assisti, mais uma vez – dentre tantas -, ao filme O Baile, do italiano Ettore Scola – para mim, obra-prima, daquelas que quem ama o cinema precisa assistir diversas vezes. Tenha certeza: o cansaço passa longe.

O Baile - Cenas de Cinema - Crítica do filme - Clássico

O Baile é o que é: um baile – ou seja: um evento em que música e dança unem-se para para entreter quem por ali se encontra. No caso, o filme vai além, porque seu objetivo (se é que precisa ter um) é contar a história da França a partir da união entre as duas artes citadas, conectando-as a suas causas e consequências: a cultura, o costume, o tempo, a história. A ousadia da película reside no fato de que palavras não são tão necessárias à comunicação. Música, gestos, comportamento e talento para unir tudo isso, sim.

O filme fará quarenta anos em dezembro – data de seu lançamento. Scola é craque: fez Nós que nos amávamos tanto e Feios, sujos e malvados. Só isso já lhe justificaria a celebridade, e seria suficiente para que não se sentisse na obrigação de dirigir a ótima comédia O Jantar. Voltemos, pois, ao baile. Há quem diga que, sem palavras, é impossível contar uma história. Balela de diletante, claro. Ettore Scola parte da ideia do contrário, transformando em narrador a combinação de cenário, vestimenta, gesto, expressões faciais e, claro, música. Sem legendas – porque elas são, aqui, desnecessárias -, a narrativa funciona: é poética, é engraçada, emotiva.

Cinco filmes para conhecer Ettore Scola | GZH

As referências culturais, sublinhadas pela coreografia e pelos variados gêneros musicais, são expostas como um banquete sobre a mesa: todas as iguarias juntas, mas é possível eleger aquela que mais agrada, que mais se destina ao espectador que, tenha certeza, participa, a seu modo, da atmosfera que a música e o movimento provocam. Nem tudo é alegria, claro. Por exemplo: uma das cenas mais tocantes da película é o repúdio do(a)s dançarino(a)s – que batem os pés no assoalho, repetidamente – a um personagem vestido de preto (cicatriz num dos olhos), que levanta a mão numa menção ao nazismo. Eis a resistência. Esse é Scola.

A propósito: é possível assistir ao filme AQUI.

Eu & Os Titãs

Qual o ponto alto de um show de rock? Quando o guitarrista ataca um solo monumental, daqueles que ninguém imita? Quando o vocalista, qual um tenor de ópera, arrisca um dó de peito e acerta em cheio? Naquele momento em que o baterista, à moda de Keith Moon, faz o instrumento eternizar-se? Cada espectador, claro, escolhe o momento primordial, inesquecível. Eu, por exemplo, escolhi – durante a apresentação da banda Titãs, em Vitória, ES, no último fim de semana – o instante em que Charles Gavin, batera do grupo, surrou os couros vestindo a camisa do meu time do coração, o doméstico Rio Branco.

Não sou um fã dos Titãs. A bem da verdade, quando surgiram, inaugurando, junto a outras bandas, o movimento BRock, no início dos anos 1980, não fui na onda. Embora gozando os meus 20 anos, mantive-me no gênero que havia me capturado (3 anos antes): a MPB. Chico Buarque, Gil, Caetano, a dupla Toquinho & Vinicius, Tom Jobim e Belchior valiam muito mais do que Renato Russo, Cazuza, Arnaldo Antunes e Nando Reis. Sim, claro, era – e ainda é – uma opinião. A bem de uma outra verdade: abstive-me da contemporaneidade, desconfiei da “revolução musical” que encheu o coração da juventude brasileira. Ignorei o movimento em si. Eu e minha senectude, disse-me uma amiga, certa vez.

Por curiosidade: ouvi a banda com bons ouvidos a partir do início dos anos 2000. Minha mulher – namorada, à época – apresentou-me a banda e, claro, a forma apaixonada como ela consumia música & letras contagiou-me – num certo sentido. Não, não foi suficiente para eu me tornar um ardoroso entusiasta, mas amoleceu meu coração. O show foi bacana – muito mais por resumir uma carreira de sucesso e trazer à superfície a memória afetiva de uma plateia que ali estava justamente para isto: lembrar-se de momentos vividos à custa das canções. E, evidentemente, emocionar-se.

Por falar em emoção, a homenagem ao falecido guitarrista Marcelo Fromer – sua filha Alice subiu ao palco, e cantou -, e ouvir Branco Mello cantar (vítima que foi de um tumor na laringe) deram o tom sentimental – mas nem de longe piegas – ao encontro de artistas que, marcados pela honestidade musical e pela satisfação inequívoca de fazer um bom trabalho, tornaram o público feliz por 140 minutos. Sim, repito: foi um show bacana: não me arrependo de ter ido. Não chegarei a me tornar fã ou consumidor, mas valeu ter testemunhado a História. Valeu, Titãs! E valeu, Charles, por vestir a camisa do meu time.

Sem Jeff, sem música

Jeff Beck nasceu pronto – mas por que digo isso? Porque aos 20 anos substituiu Eric Clapton como guitarrista dos Yardbirds. Se você gosta de rock, entendeu o porquê. Caso não, lá vai: somente um guitarrista pronto, sem necessidade de nada que se acrescente a seu talento ou performance, seria capaz de substituir um dos maiores guitarristas de todas as épocas. Jeff nunca teve – é o que me parece – o reconhecimento pleno. É um dos ases do gênero, mas sua popularidade (se é que precisou de uma) sempre esteve na corda-bamba. E daí? Quem curte a grande música sabe quem ele é – e ponto.

Aos 78 anos, morre Jeff Beck, um dos mais influentes guitarristas da  história - ISTOÉ Independente

Em 1986, ganhei, não me lembro de quem, o elepê Wired, gravado dez anos antes do meu privilégio de ouvi-lo. Ouvinte de jazz, lembro-me de ter estranhado a gravação de Goobye Pork Pie Hat, escrita por Charles Mingus, o grande orquestrador, band-leader e maior contrabaixista do jazz. Você pode ouvir AQUI. Não consegui, exceto por algumas passagens bem breves, encontrar semelhanças com o original jazzístico. Só isso – que não é, nem de longe, um detalhe – já me fez apreciar aquele de quem eu compraria, quase imediatamente (creio que poucos dias depois), outro elepê: Blow by Blow, um clássico em que as homenagens ao jazz continuam: há uma faixa, escrita por Stevie Wonder, intitulada Thelonius. Ah, claro: o próprio Stevie participa da faixa, nos teclados.

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Por falar em teclado, Jeff e Max Middleton, tecladista, compuseram You Know What I Mean, Air Blower e Scatterbrain. Middleton, sozinho, escreveu Freeway Jam. A propósito: se você gosta dos Beatles, vai apreciar She’s a Woman: uma beleza de execução. A guitarra fala, literalmente. Bem, ouça o disco, por inteiro, AQUI. Vai gostar.

Antes de escrever este texto, fiquei pensando quantos discos dele eu possuía. Não são muitos: Truth, Wired, Blow by Blow, Flash, Crazy Legs e Emotion & Commotion (do qual não gosto), que foi lançado no dia em que completei 48 anos, num 13 de abril. Jeff Beck morreu anteontem, dia 10 de janeiro, aos 78 anos, vítima de meningite. Continuava na ativa, mantendo agenda de shows (inclusive em companhia do ator-músico Johnny Depp) e, algo tristemente irônico, cuidando da saúde. Uma tristeza para o rock; outra para a música.

Fama Volat, in English (e alguns advérbios em português)

Meu romance policial Fama Volat tem edição em inglês, vertida para a língua de Vonnegut por minha filha, Júlia Grijó. Está disponível na Amazon, de graça, para quem baixar no Kindle. É só clicar AQUI. Se quiser em paperbeck, clique AQUI.

Escrever em inglês não é para todos – e não é para mim, de modo que precisei de alguém especializado para a versão. Em português, língua pátria, você (ainda) encontra exemplares para a venda na loja da editora Cândida. AQUI, então. Fama Volat, como eu disse, é um romance policial. É ambientado em Vitória, ES, e conecta-se ao estranho porém charmoso mundo das artes. O título refere-se a um grupo seleto e secreto que comercializa, em nível global, e clandestinamente, itens raros.

Há assassinatos no livro, bem como detetives, investigações e advogados. É um quase típico exemplo do gênero. Eu disse quase porque você precisa ler para entender por que usei esse advérbio. Enfim, se puder – e espero que possa! -, leia! E antes que eu me esqueça: Fama Volat conecta-se a um outro livro meu, que foi relançado recentemente, intitulado Histórias Curtas para Mariana M. Foi publicado originalmente em 2009. Você pode se informar AQUI. É a apresentação do livro, escrita por mim.

Creio que já tenha falado o suficiente. Os livros falam por mim – ou, ao menos, deveriam fazê-lo. Para conhecer meus outros livros, nem precisa sair do blogue. É só clicar lá em cima, em O CHEFÃO. Ou em BOOKS, se quiser ler em inglês. By the way, é uma ótima opção para leitura de férias. Em minha modestíssima opinião, pelo menos.

Minha Mariana, de novo

Histórias Curtas para Mariana M, meu segundo romance, publicado em 2009, tem uma nova edição. Há 14 anos, ainda relutando sobre a hipótese de o livro ser ou não ser literatura policial, optei pela ideia de que todo o romance era apenas uma história de amor. Um homem – um dos narradores da história – está à morte e o pretexto para adiá-la é contar histórias para a Mariana do título. Histórias policiais precisam de cumprir algumas exigências – uma delas, a principal, é um crime ter sido cometido. Falei o óbvio.

Meu amigo e ídolo literário Luiz Guilherme Santos Neves (o melhor escritor do ES, em minha opinião) abrilhantou a primeira edição com uma generosíssima orelha. Van Gogh não faria melhor. Segundo Luís, Histórias Curtas para Mariana M é, além de um romance, um ensaio sobre literatura policial. Pode ser lido por esse viés, mas só percebi isso após ter lido o que ele escreveu. É assim mesmo: assim como o cônjuge traído, o autor nunca é o primeiro a saber. Pois bem: a editora Cândida refez o livro. Não seu conteúdo, mas sua forma. Deu à obra uma capa. Ei-la:

Histórias curtas para Mariana M - Cândida Virtual

Por conta de atrasos na entrega do livro – a gráfica assumiu a responsabilidade -, a nova edição terá seu devido relançamento: possivelmente em fevereiro/2023. Você – que está lendo – pode, contudo, adquirir o livro, que está em pré-venda, pela Editora Cândida. Eis o endereço: www.loja.editoracandida.com.br

Editora Cândida

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