Música & MPB: livros essenciais

Coração Americano - Bastidores do álbum Clube da Esquina | Amazon.com.brNatal, época de presentear: música & livros + história da MPB. Ganhei da consorte, por bom comportamento, dois ótimos e essenciais livros sobre a música brasileira. Um deles sobre determinado disco – no caso, Clube da Esquina, de Milton Nascimento. Coração Americano – Bastidores do álbum Clube da Esquina, organizado pela produtora cultural Andrea Estanislau. Com textos escritos pela rapaziada que participou de toda a confecção do disco – os irmãos Lô e Márcio Borges, Fernando Brant, Ronaldo Bastos, Toninho Horta e Tavito -, o livro tem um trabalho gráfico de primeiríssima: papel Couché, fotos inéditas e diagramação que foge ao trivial.

Sempre há um porém: faltou um texto escrito pelo gênio do grupo, Milton Nascimento, embora haja uma entrevista dele concedida ao parceiro Fernando Brant. Depoimentos de Beto Guedes, Wagner Tiso (orquestração) e Alaíde Costa (na participação de uma das faixas) apresentam visões particulares de como foi trabalhar com e em grupo. Sim, sim, tenha certeza: é um livro fundamental para quem quer conhecer o processo de criação de um dos mais importantes discos da história da MPB.

Livro Para Seguir Minha Jornada Chico Buarque Regina Zappa | MercadoLivreOutro livro: Para seguir minha jornada – Chico Buarque, escrito pela jornalista Regina Zappa, que já havia escrito uma pequena biografia do compositor para a série Perfis do Rio, editado pela Relume Dumará e publicado em 1999. Neste livro, editado pela Nova Fronteira, a jornalista vai além – muito além. Num trabalho de pesquisa que abrange da infância até os 80 anos do mais importante artista da MPB, a jornalista vai fundo na história de vida e de música do meu xará. Se não é o livro definitivo, chega perto.

Do primeiro contato com a música, a infância na Itália, a opção por deixar de lado a arquitetura, as parcerias, as participações nos festivais, os primeiros discos, a censura, o casamento, as filhas, os grandes discos na década de 1970, a dramaturgia, a narrativa (do conto Ulisses até os romances consagrados de hoje) – tudo isso é levado a medidas extremas de informação. Sem contar as fotos que, até onde sei, não haviam sido publicadas em livro. É outro trabalho gráfico esplêndido. Se você não conhece a fundo a obra de Chico Buarque, vai se encantar com o livro. Se conhece, vai se surpreender por perceber que há muito a aprender.

Milton Nascimento e Chico Buarque: Primeiro de Maio - Vermelho

O melhor do jazz #13: contrabaixistas

Quem é o melhor contrabaixista do jazz? Não faço a mínima ideia. Posso, claro, enumerar os meus preferidos, aqueles que, nesses 45 anos ouvindo jazz, mais me agradaram aos ouvidos. Creio que Charles Mingus seja uma unanimidade, um ícone jazzístico que superou a restritiva condição de contrabaixista. Além de band leader, foi um grande orquestrador, um arranjador de primeiríssima e um ótimo pianista. Penso que é o primeiro da lista, com justiça. E o disco em questão, Pithecantropus Erectus, de onde saiu a faixa homônima, se não é sua obra-prima, chega perto.

Ray Brown aparentemente tocou com todos os grandes nomes do jazz. Ao menos com quem importa: Duke Ellington, Dizzy Gillespie, Charlie Parker, Bud Powell e Oscar Peterson. Dono e senhor de um estilo plural, foi um sideman de luxo, e um solista absolutamente perfeito. Gosto de todos os discos de que participou – todos os que conheço, evidentemente. Há um, em especial, Black Orpheus – que é, de fato, Manhã de Carnaval, de Luis Bonfá -, cuja faixa-título pode ser ouvida e vista abaixo. Na bateria, George Fludas, o grande baterista de Chicago.

Miles Davis responde como líder de dois enormíssimos quintetos do jazz. O primeiro traz como contrabaixista o gigante Paul Chambers; o segundo apresenta um dos maiores do jazz: Ron Carter. Fã de música brasileira, tocou com Antônio Carlos Jobim, Luiz Bonfá, Robertinho Silva e Hermeto Paschoal, sem contar que lançou um discaço chamado Orfeu. No quinteto de Miles, mostrava a que vinha: dono de um senso de ritmo de de suingue inigualáveis no jazz, Mr. Carter fazia na cozinha o que fazia na sala de jantar – ou seja, como líder. É um dos maiores. Abaixo, com seu quarteto, no Festival Internacional de Jazz de San Javier, na Espanha. Ouça tudo; em particular de 2:45 a 4:15.

Imagine um contrabaixista que foi considerado como o melhor de todos por músicos como Paul Quinichette, Sonny Stitt e Lee Morgan. Imagine um músico que não se intimidou ao tocar junto a Miles Davis, John Coltrane e Bill Evans, no quinteto que trouxe ao mundo Kind of Blue. Pois esse sujeito existe e se chama Paul Chambers, a quem se deveu uma revolução no instrumento, com um senso de ritmo até então nunca visto. Assim como Jimmy Blanton, seu ídolo e contrabaixista de Duke Ellington, Paul Chambers passou a não depender mais do baterista para atuar. Fez história. Abaixo, um solo em On Green Dolphin Street, acompanhando (e usando o arco) o pianista Wynton Kelly.

Da primeira vez que ouvi The Shape of Jazz to come, do saxofonista Ornette Coleman, fiquei impressionado com o contrabaixista, Charlie Haden. Sem um piano que criasse a “liga” para os outros músicos, ficou por conta das cordas fazerem seu trabalho. Haden é um craque. Seu trabalho ao lado de Art Pepper é igualmente excelente, e mais maduro, mais profissional. E, com Jan Garbarek, no sax, e o brasileiro Egberto Gismonti, ao piano e ao violão, criou uma das grandes performances em Montreal. Acompanhe, abaixo, a partir de 6:29. Aliás, veja tudo.

Castro, Jobim: textos curtos demais

Volto a Antônio Carlos Jobim – e também a Ruy Castro. Já escrevi sobre os dois, aqui, neste blogue que poucos leem. Há alguns anos imaginei que meus leitores fossem seis ou sete. Hoje já solto fogos quando alguém aparece por estas cercanias. Desabafos à parte, vamos a Tom & Ruy. Acabo de ler O Ouvidor do Brasil – 99 vezes Tom Jobim, do jornalista-escritor-biógrafo-imortal Ruy Castro. Li de uma tacada: 220 páginas com 99 crônicas – todas elas curtas – que versam sobre o maestro. Falei errado: nem todas versam. Algumas apenas citam. Lendo a introdução, o cronista foi sincero: “Em alguns [textos] a presença de tom poderá parecer de passagem.” É verdade.

Tom Jobim é realmente um craque. Uso o presente do indicativo porque obra e autor, aqui, mostram-se confundidos, metonímicos: sua obra não morre, de modo que o criador mantém-se entre os vivos. Ruy Castro também é craque, e já mostrou isso escrevendo sobre Bossa Nova, sobre Garrincha, Nelson Rodrigues, Carmen Miranda. Escreveu sobre Ipanema, sobre o samba-canção e sobre alguns selecionados artistas do século XX. Escreveu sobre filmes, sobre música e sobre literatura. É homem de repertório farto.

Em O Ouvidor do Brasil há um problema – que não se encontra em nenhum outro livro de Ruy Castro (talvez em Ela é Carioca, mas isso merece uma postagem única). O texto curto não lhe faz bem. Ele é bom quando tem tempo para escrever, quando mergulha fundo naquilo que elegeu como assunto e como obsessão. É preciso, para esse mergulho, muito fôlego – e ele tem isso de sobra. E quando é obrigado a vir à tona, para respirar e tomar sol? Os textos, publicados entre 2007 e 2023, na Folha de São Paulo, obrigaram-no a sintetizar algo que não merecia síntese. Pode ser que muitos tenham apreciado sua capacidade de falar muito com poucas palavras. Eu, não.

Ao final de boa parte das pequenas crônicas, fiquei com aquela sensação de que o autor teria feito um trabalho muito melhor caso tivesse mais duas páginas – apenas duas, não mais que isso. A linguagem de Ruy Castro se mantém clara, irônica, bem armada, por vezes mordaz. É sua vantagem e nosso privilégio. Limitá-la (e tenho certeza de que a responsabilidade é do veículo, a Folha) é um pecado. Mesmo assim, merece ser lido – afinal, quantas oportunidades temos de ver um craque falar do outro?

Jethro Tull revisitado (um prelúdio para Mick Abrahams)

Album Art Exchange - Stand Up by Jethro Tull - Album Cover ArtSe alguém perguntar – a quem gosta realmente de rock – qual a grande banda progressiva, é possível que se ouçam nomes como Yes, Pink Floyd, King Crimson e Genesis. São essas, evidentemente, e com justiça, as mais conhecidas, mais famosas. Rock progressivo é coisa de europeu, flerta com o jazz, com a música erudita, usa e abusa de sintetizadores, teclados, algumas letras são longas, os arranjos são complexos. É a parte adulta do rock: não é, em sua essência, feito para dançar nem  para servir de música de fundo. É som para se ouvir mesmo. Mas por que falo de rock? Porque acabei de ouvir Stand Up, o segundo álbum da ótima banda Jethro Tull. Está AQUI, caso queira ouvir.

Eu conheci o Jethro Tull em meados dos anos 1980, quando ouvi Thick as a brick por acidente, na casa de um amigo. Não dei muita bola, mas fiquei curioso – para dizer o mínimo – quando soube que o mesmo artista, no caso Ian Anderson, líder da banda, dava conta da flauta, do acordeão, do trompete, do saxofone e do violino. E ainda cantava, com uma voz que, se não tinha muito alcance, era marcante, singular. Apreciei e, algum tempo depois, ouvi This Was, o primeiro disco da banda. Se já apontava como destaque no rock progressivo, ainda havia uma vantagem: o guitarrista Mick Abrahams, que só tocou com o grupo neste disco. Consta que, por não viajar de avião, optou por deixar a rapaziada a ver navios.

A versão oficial é outra: diferenças criativas com Ian Anderson. Ok, então. O disco que ilustra a postagem, e que acabei de ouvir, é de 1969 – segundo álbum -, e Mick, sem alçar voo, deu lugar a Martin Barre, outra fera nas cordas, além de cuidar de muitos arranjos de canções. Há quem diga que foi o par perfeito para o líder da banda. Pode ser, mas eu ainda fico com Mick Abrahams; confesso, todavia, que Mr. Barre deu conta do recado. Ouça o disco e você perceberá isso. Há uma outra questão, que, a meu ver, valoriza o álbum: Ian Anderson, e ele mesmo afirma isso, bebeu na fonte jazzística de Ornette Coleman, de Charlie Parker e do alucinadamente criativo Rahsaan Roland Kirk.

Cinco Músicas para Conhecer: Jethro Tull sem flauta

Claro que ao ouvir o disco, mesmo en passant, qualquer um que aprecie a música vai perceber o quanto há de folk nas faixas. Jon Renbourn, do Pentagle, Bert Jansch e, claro, Bob Dylan são influências evidentes. Um tempo depois, já em fins dos anos 1990, comprei um cedê intitulado At Last, da banda de Mick Abrahams, meu guitar hero que, claro, será assunto de uma postagem só dele. Por enquanto, o Stand UP, do Jethro Tull, dá as cartas. Aprecie sem moderar-se.

Caetano, Luiz Guilherme: última palavra

Domingo após a segunda prova. Enem, 2024.

Rola um vídeo na internet em que o grande compositor e cantor Caetano Veloso resolve uma questão do Exame Nacional do Ensino Médio – o ENEM – em que ele mesmo fora citado.  Caetano não titubeia, escolhe a alternativa – e acerta. Poderia ter errado, como já aconteceu anteriormente, há uns dois anos. Eis então a pergunta de resposta óbvia: como pode o autor não saber a resposta correta sobre o texto que produziu? Resposta simples: o autor escreveu o texto, criou-o, produziu-o. O autor não o leu, de modo que a pergunta é feita para quem leu o texto; não para quem o escreveu.

Lembro-me de quando, há mais ou menos 35 anos, a UFES tornou obrigatória a leitura do romance A Nau Decapitada, de Luiz Guilherme Santos Neves. Sendo eu professor para alunos que querem acessar a universidade, preparei-lhes, como uma prova simulada, questões relativas à obra. Alguns acertaram; outro, não. Lembro-me também de mostrar as questões ao próprio autor, Luiz Guilherme que, ao tentar resolvê-las, não obteve êxito. Em bom vernáculo: errou-as. Eis mais uma vez o axioma: o autor não é leitor de si mesmo. Não possui a isenção necessária para, racionalmente, avaliar o texto.

Caetano, na verdade, avaliou uma crônica em que era citado – não um texto de sua lavra, criado e produzido por seu cérebro privilegiado, além da sensibilidade aguçada que possui ao escrever canções. O envolvimento emocional do autor com sua obra atrapalha-o, confunde-o. Tente imaginar um poeta, um escritor ou um compositor que, diante de sua criação, pergunta-se: o que eu quis dizer com isso? Ou, pior: como esse texto pode ser interpretado? Não é essa a função do artista.

De tropicalista inspirado, Caetano chega aos 70 abraçando contradições ...

Eis uma outra questão: quem tem a última palavra sobre um texto literário? Qual a interpretação tão correta quanto definitiva? Claro que interpretações pressupõem elementos que as justifiquem, mas a arte – como um todo – pode (e deve) possui inúmeras significações. Eis sua beleza e sua função: multiplicar-se em significados. Textos literários cuja interpretação não é variável correm o risco de não serem tão literários assim. Ou de serem mal escritos. Enfim, é um debate que merece atenção. Por enquanto, no meu caso, fico assim: torcendo para não precisar resolver uma questão sobre meus próprios livros.

Massaud & Machado

Discurso de recepção pelo Acadêmico Erwin Theodor RosenthalMassaud Moisés é figura obrigatória em qualquer curso de Letras, e merece – deve, na verdade – ser lido por professores, por estudantes e por quem se interessa por literatura. É um craque nas palavras, principalmente quando escreve sobre algum objeto definido: um escritor escolhido, uma obra de destaque, um gênero específico. É autor de livros seminais, como A Literatura Brasileira através dos textos, A Criação Literária e o essencialíssimo Dicionário de termos literários. Ao lado de Alfredo Bosi e Antônio Cândido, forma a tríade masculina da teoria literária brasileira.

Machado de Assis, bem, não há necessidade de que eu o apresente. O que realmente é necessário é mostrar quando essas duas figuras se encontram. Em Machado de Assis: Ficção e Utopia, um encontra o outro, e da maneira mais elegante possível. O adjetivo em itálico justifica-se, porque a linguagem de Massaud Moisés é de uma clareza tão absoluta que suas reflexões acerca do enormíssimo Machado tornam-se elegantes. É bom de se ler justamente por isso – além de, no meu caso, aprender um bocado.

Machado de Assis: Ficção e Utopia | Amazon.com.brOs ensaios contidos no livro não são inéditos. Foram publicados desde 1958 em revistas, suplementos literários – muitos deles no Caderno de Sábado, do Jornal da Tarde, na década de 1990. Recomendo a leitura de todos os 14 ensaios, mas um deles – justamente o que intitula a coletânea – é tão precioso quanto fundamental. Partindo de Brás Cubas, o notável professor traz uma ideia inédita: como o escritor-chave do Realismo brasileiro pode ser um utopista? Lá pelas tantas, ele nos diz: “Mirando-se no espelho do texto, contemplando os semelhantes transfigurados em personagens, o leitor dá-se conta da imperfeição do mundo e a um só tempo sente-se atraído pela promessa de um mundo melhor aqui na terra.” Genial.

Massaud Moisés faz o que não havia sido feito: conecta Machado a Eça de Queiroz e a Proust (que viria depois); desmistifica a oposição entre os dois Machados: o romântico e o realista; apresenta a ideia de que o adultério de Capitu é algo secundário em Dom Casmurro. E por falar em Capitu, há um ensaio sensacional em que o professor conecta Minha Vida de Menina, de Helena Morley, publicado em 1942, com a heroína Maria Capitolina. É uma das melhores coisas do livro. Bem, se você nunca leu os textos críticos de Massaud Moisés, pode começar por esse. Além de traduzir o sempre necessário Machado de Assis, dá uma aula de como pensar literatura.

Em tempo: seu nome é pronunciado “Massaúde” e não “Massô”. Ele era descendente de libaneses; não de franceses.

Tom Jobim & Jon Bon Jovi

Um querido amigo, professor no RJ, contou-me, estupefato:

“Pedi a meus alunos, todos na faixa dos 16 anos, que me apontassem um grande sucesso de Tom Jobim. Os alunos entreolharam-se, e os olhares pareciam perguntar ‘Quem é Tom Jobim?’. Eis que uma menina, mais espertinha e contumaz usuária de celulares conectados ao mundo, perguntou: ‘É esse?’, e mostrou-me uma foto – e subsequentes preciosas informações – sobre Jon Bon Jovi.” Para quem não sabe, este, abaixo, é Antônio Carlos Jobim:

Biografia de Tom Jobim revela mágoa com sucesso

Sim, caros sexto e sétimo leitores, é sério. A despeito do distante parentesco – afinal ambos os nomes possuam o, j e i, sem contar a nasalização após o fonema /o/ -, o problema não é confundir o gênio com o pop star. O real problema reside em não fazer ideia de quem é Tom Jobim. Ou pior: sequer ter ouvido falar nele. Convivo com essa realidade e, ao contrário de lamentar e pensar em suicídio, tomo-a como combustível para continuar meu trabalho. Insisto no árduo (e muitas vezes infértil) ofício de levar a essa meninada – no meu caso, pré-vestibulandos entre 17 e 20 anos – informações sobre o que vale a pena. Ou, por outra: o que eu penso que vale a pena.

Jon Bon Jovi chega aos 60 anos! Saiba quais são seus maiores hits no Brasil! |

Claro que há exceções. Dia desses, surpreendi-me: uma aluna perguntou-me se eu conhecia a cantora Carmen McRae. Pensei imediatamente em pedir a Jorge Bergoglio que, sendo ele meu xará, rezasse uma missa – no Vaticano. É uma pergunta que, dado o ambiente e o costume, chega às raias do milagre dos pães e dos peixes. Comemorei tanto que estou escrevendo sobre. Aproveitei e sugeri a ela que lesse uma postagem sobre a distintíssima e extraordinária cantora Carmen. AQUI, caso alguém, além da aluna, deseje ler.

Eis a questão: qual o papel de um professor? Entristecer-se e, sozinho, no silêncio da noite, embebedar-se? Crer-se cúmplice do desconhecimento e, então, ingerir a letal ricina, proteína encontrada exclusivamente no endosperma das sementes de mamona? Frustrar-se com a duvidosa opção dos alunos ou, sabendo dessa triste realidade, oportunizar que eles conheçam algo além do que é veiculado pela restrita web que frequentam? Creio que a opção em negrito seja a adequada. Vou em frente, sempre. Drummond tinha razão ao afirmar “Lutar com palavras / é a luta mais vã. / Entanto lutamos / mal rompe a manhã.” Sem heroísmos, mas cumprindo a tarefa.

Professores & Professoras em Vitrine

Em homenagem ao DIA DO PROFESSOR – 15 de outubro -, aí vão alguns vídeos do podcast Vitrine Literária com Francisco Grijó com professores e professoras ligados, cada um a seu modo, à literatura. Reitero meus agradecimentos a todos e a todas que, gentilmente, dialogaram com este que vos escreve. Agradeço também a quem assistiu aos bate-papos – ou os ouviu, porque estão disponíveis, também, no Spotify. Em frente, então: é só clicar e assistir.

E se quiser deixar um comentário, será muitíssimo bem vindo!

1. HERON MIRANDA, professor de Física e escritor.

2. LILIAN MENENGUCI, professora e escritora.

3. ORLANDO LOPES, professor e poeta

4. ANAXIMANDRO AMORIM, professor, poeta e escritor

5. RICARDO SALVALAIO e SAMIRA FREITAS, professores

6. FRANCISCO AURÉLIO RIBEIRO, professor e escritor

7. BERNADETTE LYRA, professora e escritora

8. SAULO RIBEIRO, professor, escritor e editor

9. THAÍS HELENA, professora e escritora

10. PAULO SODRÉ, professor e escritor

11. MARCELA AMARAL e PAULO SCARDUA, professores

12. CAMILA DALVI, professora e escritora

13. FERNANDO ACHIAMÉ, professor, poeta e escritor

14. JERRY TONONI, professor

15. RENATA BOMFIM, escritora e professora.

16. INÊS AGUIAR DOS SANTOS NEVES, escritora e professora

O melhor do Jazz #12: os livros

Livros sobre jazz há aos montes – ainda bem! Embora se diga que é um assunto que interessa a poucos, eu discordo. A maioria que diz não apreciar o jazz na verdade não o conhece. Ou pode ter sido mal apresentada a ele. Os cinco livros selecionados são, todos, traduzidos para o português. Dois deles foram escritos em nossa língua. Evidentemente – e eu teimo em repetir -, a lista é subjetiva, e composta somente por livros que eu tenha lido. Ou seja: é lista restrita, consumida por quem não é músico, mas por alguém que gostaria de ser.

Veja os detalhes da imagem relacionada. O JAZZ: DO RAG AO ROCK - Berendt, Joachim E.Joachim-Ernest Berendt era um incansável jornalista apaixonado por jazz. Organizou vários festivais do gênero, incluindo um dos melhores em todos os tempos: o Berliner Jazztage. Nesse livro, O Jazz – do rag ao rock, há uma análise arguta – embora resumida – de cada um dos subgêneros do jazz. Os grandes instrumentistas, os arranjadores essenciais, as inesquecíveis formações – e o mais importante: a história do jazz contada por que era um obcecado. Ao final, como um apêndice, há uma discografia selecionada que serve como guia necessário a quem ouve ou quer ouvir jazz.

Resumo - Kind of Blue - Recentes - 1O lendário quinteto de Miles Davis era um sexteto quando um dos maiores discos da história do jazz foi concebido. Kind of Blue: a história da obra-prima de Miles Davis, escrito pelo crítico e estudioso do jazz Ashley Kahn, narra, com clareza, os antecedentes e os consequentes da criação modal de um dos maiores gênios do jazz. Das fofocas aos registros oficiais, da natureza de cada um dos envolvidos no processo de concepção do disco. Mais sobre o livro: AQUI.

Capa do livroUm dos primeiros livros que li sobre o assunto foi escrito por Luiz Orlando Carneiro: Obras-primas do Jazz, que saiu pela Zahar e, 1986. Livro de didatismo inquestionável e percepção sensível sobre os grandes nomes do gênero. Um glossário, ao final do livro, com o objetivo de familiarizar o leitor com o vocabulário jazzístico, é um dos pontos altos – sem contar, claro, a abordagem crítica de um dos grandes conhecedores brasileiros do jazz.

Jazz Panorama – Wikipédia, a enciclopédia livreJorge Guinle era uma figura. Playboy riquíssimo, frequentador do jet set internacional, cicerone das estrelas de Hollywood, e apaixonado por jazz. Bem, o livro foi publicado há 70 anos – daí estar desatualizado. À parte esse pormenor, Jorge Guinle era dono de uma coleção de discos invejável, e resolveu, por conta e risco, escrever sobre jazz. Bem, teve ele a vantagem de escrever sobre muitos a quem ele conhecia pessoalmente: Gillespie, Getz, Bill Evans e Roy Eldridge eram seus amigos. Um livro ótimo, com relevantes análises de quem conhecia muito o elemento. Jazz Panorama é um título adequado, e evidentemente subjetivo.

Ainda na faculdade, ganhei, de um amigo querido, Jazz – das raízes ao rock, cuja autora é Lillian Erlich. Bem, o título original é muito mais bacana: What Jazz Is All About. Enfim, o problema de tradução é grave. Por exemplo, traduz-se o disco Live at Village Vanguard, de Coltrane, como Ao vivo na Vila Vanguarda, mas tudo bem. A despeito disso, é um livro delicioso, cheio de informações básicas (para quem não tem intimidade com o jazz) e preciosas (para quem tem). São 12 capítulos que expõem a evolução do gênero, bem como suas mudanças de caminho. O capítulo sobre o be-bop, sob o título de Bird e Diz lideram o movimento é absolutamente sensacional.

Um p.s. necessário: compositores, instrumentistas, arranjadores, trios, quartetos, quintetos, orquestras e gravadoras que tenham surgido depois de 1990 não são contemplados nos livros desta lista. É o senão desta postagem – se é que não há outros.

Fala! #10: Henry L. Mencken

“Se os escritores pudessem trabalhar em fábricas grandes e bem ventiladas, como os fabricantes de charutos ou cuecas, cercados de colegas e trocando mexericos profissionais, sua labuta seria imensamente mais leve. Mas é essencial ao seu ofício que desempenhem suas tediosas e vexatórias operações a cappella, o que faz com que os horrores da solidão se somem às suas outras fragilidades. Um escritor trabalhando está, contínua e inescapavelmente, na presença de si mesmo. Não há nada para entretê-lo ou consolá-lo. Toda vez que um pensamento vadio o invade, pega-o instantaneamente pela orelha, e toda vez que uma câimbra desce a sua perna, sacode-o como a mordida de um tigre.”

Henry Louis Mencken, A Mencken Chrestomathy

1 2 3 28
Page 1 of 28