“Porque a humanidade normal só se atreve a reagir diante das gradações habituais que vão do belo ao feio, que em última instância não passam de matizes da mesma coisa. O monstro, em compensação, afirmava dom Jerônimo apaixonadamente para contagiá-los com sua fé, pertence a uma espécie diferente, privilegiada, com direitos próprios e cânones particulares que excluem os conceitos de beleza e feiúra como categorias insuficientes, já que na essência, a monstruosidade é a culminação das duas qualidades sintetizadas e exacerbadas até o sublime. Os seres normais, aterrorizados pelo excepcional, trancafiavam-nos em instituições ou em gaiolas de circo, acossando-os com o desprezo para despojá-los do seu poder.”
O Obsceno Pássaro da Noite, José Donoso