Bernstein aos 99

Outra anedota do mundo da música clássica. Leonard Bernstein, o maestro norte-americano, foi ao Konzerthaus Berlin assistir à regência da Quinta de Beethoven, por Herbert von Karajan, que regia a Filarmônica de Berlim. Após o espetáculo, grandioso e essencial, os dois maestros se encontram. Os gigantescos egos de ambos eram notórios, comentados por todos aqueles com quem trabalharam. Karajan, aplaudidíssimo e cheio de pompa depois de uma regência impecável, volta-se para Bernstein e afirma: “Leo, hoje, a orquestra foi praticamente regida por Deus!” Leonard, não menos vaidoso, devolveu-lhe: “Por mim?”

A anedota explica bem a postura de Leonard Bernstein diante do mundo – uma postura altiva, autossuficiente, plena de segurança. Morreu num dia 25 de agosto, aos 72 anos – dos quais 50 foram dedicados a fazer da música algo maiúsculo, essencial. É evidente que muitos, antes dele, fizeram isso com e para a música, mas quem, com tanta paradoxal generosidade? Seus ensinamentos, sua lógica musical e sua dedicação à arte foram elementos definidores para aqueles que o seguiram, sejam discípulos fiéis ou admiradores contumazes. E por que não dizer que ele foi generoso também com a Filarmônica de Nova Iorque – antes dele sempre posta em segundo plano, atrás de orquestras como as de Boston ou Chicago?

Foi Leonard Bernstein que elevou os ânimos, deu à orquestra uma nova face, um dinamismo ainda não empenhado no grupo. E há quem diga que essa transformação foi rápida, algo incomum para o métier. A generosidade, entretanto, não para aí. Talvez a grande contribuição do maestro tenha sido na seara da educação. Usando o meio televisivo, muito eficaz e rápido, deu vida a projetos como Omnibus, New York Philharmonic Young People’s Concerts e Leonard Bernstein presents…, programas que tinham como objetivo estimular ainda mais aqueles que se dispunham a ouvir. Aos interessados, era um poço sem fundo de prazer e conhecimento. Aos que desconheciam a música, uma oportunidade para sair da escuridão.

AQUI, AQUI e AQUI você testemunha o trabalho desse senhor – um educador.

P. S. Já ouvi a anedota do início da postagem com os mesmos personagens, mas em papeis trocados.

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Francisco Grijó

Francisco Grijó, capixaba, escritor, professor de Literatura Brasileira. Pai de 4 filhas.

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