Maldição, Seinfeld, Larry David
Dizia-se que a Maldição de Seinfeld era implacável, até que Julia Louis-Dreyfus estrelou Veep e foi um sucesso absoluto. Se você não faz ideia do que estou falando, aí vai: Seinfeld foi um fenômeno da TV: uma sitcom que revolucionou a linguagem do humor, apresentou quatro personagens inesquecíveis que, por serem inesquecíveis, caíram na armadilha da personagem única. Ou seja: os atores não conseguiam encarnar outras personagens porque estavam inexoravelmente presos àquelas que fizeram deles figuras icônicas. Durante alguns anos amargaram ora fracassos, ora tentativas frustradas de ir adiante. Como eu disse, Julia Louis-Dreyfus quebrou a corrente.
A sitcom baixou as cortinas no apogeu. Conta-se que Jerry Seinfeld recusou uma proposta de 110 milhões de dólares para continuar o trabalho. Fez bem. Não quis experimentar a decadência – que significa perder a audiência e ser lembrado justamente pela última impressão. Estão todos milionários. Julia um pouco mais, já que é herdeira de Gérard Louis-Dreyfus, o bilionário francês do setor de energia. E ficou mais rica ainda ao protagonizar o ótimo Veep, em que interpreta a vice-presidente dos EUA. Jerry Seinfeld, o chefão, saiu interpretando a si mesmo em várias oportunidades, fez animação e criou um ótimo esquete sobre carros, café e humoristas: AQUI.
Jason Alexander e Michael Richards tiveram também sua parte na maldição. Jason acabou fazendo aparições especiais – e provavelmente se divertindo nisso – em filmes, séries e comerciais de tevê, mas não emplacou um grande sucesso. Richards experimentou a fúria justificada da opinião pública ao mostrar que, a depender do estímulo, muita gente se mostra racista. Deu-se mal, mas continua na memória coletiva como o alucinado Cosmo Kramer, detentor do título de melhor personagem de sitcom já criado.
Reapareceram, os 4, em Curb Your Enthusiasm – ou Segura a Onda, no Brasil -, escrito e estrelado pelo co-autor de Seinfeld, Larry David. Consta que a personagem George Costanza baseia-se nele, Larry. Segura a Onda é bom, cheio de referências a Seinfeld e a seus personagens. Larry David é um tanto previsível em sua escrotidão, chatice e intolerância. Judeu, debocha dos seus; calvo, debocha deles também. É inteligente, milionário e faz o papel de si mesmo. A série fica melhor ainda quando entram em ação outros comediantes, como Richard Lewis, Jeff Garlin, J. B. Smoove, Bob Einstein e a ótima Susie Essman. Vira festa – e sem maldições.