Listas divertem – e somente isso. Divertem quem lê e quem a produz. Aquele que lê adora discordar, criticar, mandar às favas. Embora concorde com alguns pontos, prefere apontar, de fato, aquilo de que discorda. Comigo é assim. Deve ser assim com você também, prezado(a) leitor(a). Há algumas semanas, postei uma lista de discos escolhida por vários jornalistas espalhados pelo Brasil. Comentei-a, AQUI. Se quiser lê-la antes de ler a minha, fique à vontade.
Ressalto: não entraram na lista música instrumental ou clássica. Você perceberá também que nenhum dos discos envolvidos tem menos de 40 anos. Sim, é preferência minha. E não há somente MPB, como se pode observar. Canção do Amor demais é um disco de bossa nova, assim como Chega de Saudade. Entraram, contudo, na lista. Não sou tão purista quanto pareço. Ei-la:
1. Ópera do Malandro, Chico Buarque. O disco duplo é a perfeição, da escolha dos intérpretes à confecção das canções. Algumas delas obras-primas, como Geni e o Zepelim, O Meu Amor, O Malandro e Uma Canção Desnaturada. E a ópera, que fecha o disco, é de fazer inveja a muitos escritores tarimbados. Arranjos do craque Francis Hime. Chico Buarque é o maior nome da MPB.
2. Alucinação, Belchior. Um disco em que brilham canções que ficarão para sempre – e olhe que nasceram entre 1973 e 1975! Exemplos? Como Nossos Pais, Apenas um rapaz latino-americano, A Palo Seco e Velha Roupa Colorida. Belchior é um dos melhores letristas do gênero, e este disco, em que quase todos os integrantes eram ligados ao rock, é seu apogeu.
3. Bicho, Caetano Veloso. Todos os discos de Caetano entre 1969 e 1982 são ótimos, de modo que escolher este – de 1977 – não foi tarefa fácil. O que destaca? O Caetano absolutamente maduro e criativo. Canções como Tigresa, Gente, Um Índio, O Leãozinho e Alguém Cantando provam isso. Todas sensacionais: letra e música. Escolhi por conta delas.
4. Tom & Edu, Edu Lobo/Tom Jobim. Junte Beckenbauer e Cruyff no mesmo time. Mal comparando, é mais ou menos isso. Dois maestros juntos, divertindo-se, cantando e tocando canções que eles mesmos eternizaram. Destaque para Vento Bravo, Chovendo na roseira, Pra dizer adeus e Luíza. Aliás, destaque para tudo, porque o disco é antológico!
5. Canção do Amor Demais, Elizete Cardoso. Os fãs de Elis que me perdoem, mas Elizete é a maior cantora brasileira. Opinião particular – é óbvio. Agora imagine essa senhora sendo acompanhada por Tom Jobim e João Gilberto, pais da Bossa Nova! E imagine-a cantando canções de Tom & Vinicius! Se você aprecia o gênero, vais achar esse disco a obra-prima entre as obras-primas. Arranjado por Tom, todas as faixas são excepcionais. Bem, afinal é Elizete cantando.
6. Chega de Saudade, João Gilberto. Pois é: disco icônico, fundamental, do qual – confesso! – só fui realmente gostar após tê-lo ouvido na vida madura, nos meus quarenta e poucos. Sim, é revolucionário, criou um outro modo de se cantar samba, e gerou uma filharada que se mantém até hoje. Claro que algumas letras são bobinhas, infantis, mas o que conta é como se canta e como se toca. É um mundo que se abre, em 1959. Se você pensa que esse mundo fechou, erra.
7. Banquete dos Mendigos, Jards Macalé. Um disco-manifesto, comemorando os 25 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Emblemático, representou a reunião de vários nomes: Chico Buarque, Gal Costa, Johnny Alf, Paulinho da Viola, Edu Lobo, Jorge Mautner, Raul Seixas, Gonzaguinha, Milton Nascimento, Toninho Horta e, claro, Jards Macalé. Muita gente boa junta: difícil não sair algo fenomenal.
8. Refavela, Gilberto Gil. Por que não discos extraordinários como Refazenda, Um Banda Um, Nightingale ou Dia Dorim Noite Neon? Bem, primeiro porque Refavela também é extraordinário. Em segundo lugar, porque foi o primeiro disco de Gil que comprei, em 1979, dois anos depois de ele ter sido lançado. A relação é pessoalíssima. Não precisaria nem citar que Balafon, Sandra, No Norte da Saudade e a faixa-título são primores textuais.
9. Antologia, MPB4. Gosto de todos os discos do MPB4, sem exceção. Nunca fizeram nada que me desagradasse. Os fãs do quarteto – se é que lerão esta postagem – vão torcer o nariz, afinal, como uma antologia pode ser o melhor disco? Pois é. Mas juntar pot-pourri de Ismael Silva, Ataulfo Alves, Chico Buarque, Tom Jobim, Paulinho da Viola, Nelson Cavaquinho, Noel Rosa, Monsueto, Dorival Caymmi e Baden Powell não é pouca coisa. E a afinação do quarteto é coisa de outro mundo. Discaço!
10. Clube da Esquina 2, Milton Nascimento. Sim: acho o número 2 melhor. Gosto daquele que ficou em primeirão, no juízo dos jornalistas. Prefiro este porque Canção Amiga, Casamiento de Negros, Credo, Paixão e Fé, Maria Maria e Tanto estão nele. E, claro: Canción por la unidad de Latino America, em companhia de Chico Buarque, com um show de Wagner Tiso. Política e arte nas alturas.
Se quiser enviar a sua lista, sinta-se convidado(a) a fazê-lo.