Respostas ao DESAFIO do IPSIS LITTERIS

1) Da esquerda para a direita: Canhoto, Dino (por trás do Canhoto), Abel Ferreira, Elizeth Cardoso, Clementina de Jesus, Cartola, Pixinguinha e Jorge Marinho.

2) Henry Louis Mencken.

3) Joaquim Pedro de Andrade, Macunaíma.

Luiz Carlos Barreto, Dona Flor e seus dois maridos (por conta da maior bilheteria) e/ou O Quatrilho (indicado ao Oscar).

Leon Hirszman, Eles não usam black-tie.

Ressalte-se que a terceira pergunta não se refere à película de preferência de quem responde. É preciso que haja parâmetros para afirmar que obras são as mais importantes. No caso de Luiz Carlos Barreto, produtor de cinema, as obras Dona Flor…e O Quatrilho possuem parâmetros objetivos de classificação.

Dessa forma, aqueles que responderam aproximaram-se muito da resposta completa, mas, infelizmente, ninguém deu a resposta adequada. O prêmio acumula e será adicionado de mais itens para o próximo desafio, em dezembro.

Desafio do Ipsis Litteris

Mais um DESAFIO do Ipsis Litteris (o terceiro). O primeiro a acertar as 3 respostas – é necessário que sejam as 3! – ganhará os prêmios acima. Haverá somente 1 ganhador: aquele que responder primeiro, e enviar a resposta ao blogue. Os prêmios: 1 exemplar de Os Mamíferos – crônica biográfica de uma banda insular, de Francisco Grijó; 1 blu-ray Vinicius de Moraes e 1 exemplar do disco Cantando Vitória, de Pedro de Alcântara.

A duração do desafio: até terça-feira, dia 16, às 23h59! Caso ninguém acerte, a resposta será publicada neste horário. Boa sorte!

Eis as perguntas:

  1. Quem são as personagens na foto?

         2. Que crítico literário escreveu estas palavras sobre o romance Moby Dick?

        3. Qual a principal obra de cada um desses senhores destacados?

Amado há 110 anos

Jorge Amado teria feito, amanhã, 10 de agosto, 110 anos. É o grande contador de histórias deste país, a despeito de repetir-se em cenário – sua amada Bahia – ou de temática: os vilipendiados por uma sociedade branca, exploradora e desgraçadamente capitalista. Sua verve comunista, marcada por uma abissal indignação quanto às desigualdades de toda ordem, cedia espaço para a sensualidade feminina, para os exotismos do interior baiano, para o candomblé, para a cultura do cacau, para os desajustados sociais. Jorge Amado tinha imaginação, e partilhou-a sem qualquer limite com o leitor litorâneo e localizado, geograficamente, abaixo da fronteira baiana.

Li vários livros de Jorge Amado. Desde os preferidos por professores secundaristas – quando eu era aluno -, até aqueles considerados menos populares. Meu preferido, até hoje, é Tenda dos Milagres, um romance notável cheio de sensualidade e discussão acerca da mestiçagem brasileira. Citei-o, anteriormente. Seu herói, Pedro Archanjo é descrito como um Ojuobá (Olhos de Xangô). Jorge não era fácil: unir um arcanjo a uma entidade africana é adiantar o tema principal da obra. Isso sem contar do particular atletismo da personagem central que, lá pelas tantas, precisa vencer o capeta num ringue no mínimo singular: na cama.

Li Os Pastores da Noite, Os Velhos Marinheiros, O País do Carnaval, Jubiabá, Cacau, Suor, Capitães da Areia e, claro, encantei-me com Dona Flor, com Gabriela e com Tieta. Fiquei devendo – mas ainda pagarei a dívida – uma visita a Teresa Batista. Há uns 15 anos adquiri Navegação de Cabotagem, uma obra memorial cheia de pequenas boas histórias: situações, encontros, opiniões, lugares visitados, tributo aos amigos etc. Leio-a vagarosamente, contando as gotas. Quando fui empossado na Academia Espírito-santense de Letras, um amigo telefonou-me e perguntou, não sem certa ironia, se eu havia lido Farda Fardão Camisola de Dormir. Não, não li – ainda.

A Universidade, até onde sei, não aprecia muito Jorge Amado, já que ele não possui as ousadias transgressoras da modernidade, não é dado a novidades estruturais na narrativa, não se comunica muito com os europeus ou com norte-americanos de sua época. Seu diálogo é com seus pares nordestinos: José Lins, Graciliano, José Américo, Rachel. Escreveu para o leitor, queria-o cúmplice da história, quase um participante dela. Percebeu que aquele que lê precisa de atenção e de reverência. Isso não significa usar linguagem simplória ou temática banal. Jorge Amado soube fazer literatura de qualidade para ser lida por todos. Todos, mesmo.

O melhor do Jazz #10: trompetistas

Quem são os maiores trompetistas do jazz? Bem, cada um tem sua preferência – e eu me incluo nesse cada um. Essa série O Melhor do Jazz revela, é evidente, minha preferência. Já adianto que deixo de lado um jazzista hors concours (que, hoje, faria 121 anos): Louis Armstrong. Justifico: além de ser o “pai” de todos, foi – mais uma vez a meu ver – superior a outros trompetistas, independentemente da época. Fica de fora, então. Agora, meu top 5:

Dizzy Gillespie é um dos maiores nomes do jazz, considerado o criador do bepob, ao lado de Charlie Parker. Sendo seu fraseado constantemente inventivo, criou um vocabulário jazzístico próprio, muitas vezes sincopado. Foi virtuose, mas foi, também, vanguardista, ligando o jazz norte-americano à música caribenha – para horror dos puristas. É uma figura genial, um instrumentista de primeira linha, imitado, admirado, reconhecido. Sugestão: ouça Bird and Diz, AQUI. É um dos clássicos do jazz.

Miles Davis mudou o jazz três vezes. Criou o modal jazz, o cool jazz e o  jazz fusion. A despeito de concordar ou não comigo, é um nome fundamental do gênero. Sem sua liderança, não conheceríamos o melhor quinteto da história do jazz, nem o noneto que apresentou a conexão com a música clássica, nem a troca de beijos com o rock. Miles arregimentou músicos como ninguém fez, nem antes nem depois. Essencial! Sugestão: ouça, AQUI, ‘Round About Midnight, um dos grandes discos do quinteto de Miles, no qual brilhavam John Coltrane, Paul Chambers, Red Garland e Philly Joe Jones.

Miles Davis' Historic First Blue Note Recording Session | uDiscover

Clifford Brown é, para muita gente, o melhor de todos os trompetistas. Tenho todos os discos dele pela Emarcy, e meu preferido é este AQUI. Sua morte prematura, aos 25 anos, contribuiu para a mística de que um substituto para Louis Armstrong havia deixado este mundo, embora tenham tido, ambos, diferentes estilos. A potência do sopro, as frases limpas e a força improvisativa eram suas marcas inequívocas. Um músico genial, que sobressaiu ao lado de um dos maiores bateristas de jazz de todos os tempos, Max Roach.

Clifford Brown Jazz Festival (Live Virtual Stream) - JazzBuffalo

Dentre os inúmeros discos de Lee Morgan que possuo, Leeway é o que mais me impressiona – e o primeiro que adquiri, no início dos anos 1990. AQUI você o ouve, inteirinho, em companhia de quem o projetou, Art Blakey, e de um dos ótimos pianistas do jazz, Bobby Timmons. Muito ligado ao blues, Lee Morgan criou uma forma muito particular de tocar: solos longos, bem articulados, claros, inspirados no som de seu primeiro professor, Clifford Brown. Lee morreu aos 33 anos, assassinado pela esposa.

Casamento, assassinato e heroína: o trágico conto do trompetista de jazz  Lee Morgan

Woody Shaw empatou com Fats Navarro, Donald Byrd, Freddie Hubbard e Clark Terry na escolha do quinto nome. Escolhi-o porque, ao ouvi-lo, lembro-me de dois outros grandes trompetistas (que não entraram na lista): os citados Navarro e Hubbard. Woody Shaw mistura a força improvisativa do primeiro e o suingue cerebral do segundo. AQUI um disco fabuloso, com standards do jazz, e em companhia do excelente pianista Cedar Walton.

Last studio recording of jazz trumpeter Woody Shaw released | PBS NewsHour

Próxima edição: os quintetos.

Barrocos fundamentais

Alguém disse – e eu acredito – que a música barroca é o apogeu da criação na arte. Principalmente a música barroca alemã, capitaneada pela maior personalidade da música: Johann Sebastian Bach. O barroco musical italiano não fica muito atrás, e, caso quem está lendo duvide, ouça o disco abaixo. É uma coletânea da folia barroca, na qual brilham 4 italianos, um francês e um alemão. No dna deste último descansava a herança do citado Johann. Essa coletânea é simplesmente a melhor compilação de música barroca (reunida em apenas um disco) que conheço. Eis a capa:

Quem são os italianos? Corelli, Geminiani, Scarlatti e Vivaldi. O francês é Marin Marais e o alemão, o filho mais criativo de Bach: Carl Philipp Emanuel. O Quarteto Purcell – formado por Robert Wooley (cravo e órgão), Richard Boothby (violoncelo) e por duas Catherines nos violinos: Weiss e Mackintosh – é de uma extraordinária competência. A exatidão da execução é tanta que parece ter sido corrigida (como se houvesse necessidade!) por programas de computador. Coisa assombrosa, ao mesmo tempo que edificante e tremendamente emotiva. Eis o time:

Primary

A música barroca está em primeiro lugar, no que se refere às minhas preferências. A polifonia, o uso do baixo contínuo – que só fui compreender muito tempo depois de ouvir exaustivamente – e a inventividade de tantos sons combinados me fizeram admirar, primeiramente, J. S. Bach. Depois, fui a seus pares: os seis senhores que compuseram as variações que geraram esse disco excepcional. Confesso que minha predileção, dentre as seis gravações, está centrada no meu xará, Francesco Geminiani e seu Concerto Grosso La Folia (after Corelli). Infelizmente essa gravação não é com o Quarteto Purcell.

Caso se interesse, aí vão os links para se ouvir: AQUI, 12 Variationen über Die Folie D’Espagne, de C. P. E. Bach. AQUI, Trio Sonata in D Minor (Variations on “La Folia”), de Vivaldi. AQUI, Folia From Toccata No 7 (Primo Tono), de Scarlatti. AQUI: Les Folies d’Espagne, de Marais. E, finalmente, AQUI, a genial Sonata In D Minor Op 5 No 12, de Corelli. Sinceramente? Eu ouviria todas, na sequência que quiser – não deixe de ouvir, contudo.

Filmes (re)vistos #7: Operação Dragão, 1973

Não se surpreenda: sou fã de Bruce Lee! Aliás, pouca gente de minha geração, que gosta de filmes de aventura, não o aprecia. Bruce Lee é o maior artista marcial que existiu e um dos três maiores bailarinos do cinema. Perde para Gene Kelly e para Fred Astaire – mas quem, neste mundo, não perde? Revi Operação Dragão semana passada, num canal fechado, e as lembranças de quando assisti ao filme pela primeira vez, no final dos anos 1970, encheram-me mais uma vez os olhos. É uma história bem contada – diferentemente da maioria dos filmes de artes marciais da época. Aliás, de qualquer época.

Estrelado por Bruce Lee, "Operação Dragão" vai ganhar reboot

Bruce é sensacional. Pula, voa (ou quase), estapeia, chuta, soca. Sem contar os uivos bem próprios dele, ao bater na malandragem. Não era grande coisa como ator, e nem precisava. O público – eu me incluo! – não estava ali para avaliar suas aptidões dramáticas, mas para vê-lo em ação em cenas coreografadas pelo próprio. Vê-lo lutar é como estar diante de um Nureyev oriental, descendo o malho em quem se opusesse a ele. E à justiça, claro, porque o herói está sempre do lado bom.

Operação Dragão é obra-prima do gênero. A história? Um grande campeonato de artes marciais, do outro lado do mundo, é o vetor para tráfico internacional de drogas. A personagem de Bruce vai até lá, bate em todo o mundo, mata o chefão e, evidentemente, desmonta o esquema. Está a serviço do governo paladino do mundo: o norte-americano. Bem, a película foi financiada pela Warner, que embutiu na história um de seus contratados: o sempre cínico John Saxon, bom de porrada também.

Jim Kelly acting alongside John Saxon discussing a lethal tournament held  on the deadly Han Islan | Enter the dragon, Jim kelly, Bruce lee

Não se pode esquecer de Jim Kelly, astro da Blaxploitation que, com a cabeleira black-power, dá um show particular. Ele e Saxon fazem uma grana extra apostando em si mesmos, nos confrontos com suas vítimas. É a parte bem humorada do filme – que, sinceramente, se você gosta de filmes de aventuras, com pancadaria estilizada, não deixe de assistir. Clássico do início ao fim.

AQUI, a sequência clássica do filme: “Tábuas não revidam!”

 

 

55 anos sem JC

JC, claro, não é Jesus Cristo; tampouco se refere ao pernambucano Jornal do Commercio, com m duplo e sem acento agudo no e. Na verdade, são as iniciais de um dos maiores músicos de jazz de todos os tempos (e para muita gente, o maior): John Coltrane que, no dia 17 de julho, há 55 anos, morreu de câncer hepático – aos 40 anos. Se há uma perda que a música lamente há tanto tempo, tenha certeza: é essa. Muito se falou sobre Coltrane. Muito se teorizou, avaliou, escreveu, estudou. É reverenciado com merecimento: até uma igreja para louvá-lo existe. Nada que eu escreva sobre ele será inédito ou original. Ao lado de Charlie Parker, é o mais celebrado nome do jazz.

Em 2018, escrevi sobre o álbum perdido – ou seja: mais um disco seminal, uma obra de primeira, com o quarteto que trouxe ao mundo o sensacional A Love Supreme, um disco espiritualizado, místico, ao mesmo tempo que excessivamente cerebral, quase matemático. É seu ponto máximo, para muitos. Meu primeiro contato com o gênio deu-se por conta de outro músico: Duke Ellington, o maior dos compositores no gênero. O disco Duke Ellington & John Coltrane é absurdamente bom: sete faixas em que tudo está no lugar certo, e traz – provavelmente – a melhor gravação de In a Sentimental Mood que há. Duvida? É só checar clicando no título!

Li uma entrevista de Alice Coltrane, sua viúva, em que ela afirmou que JC estacionara em um ponto sem retorno. A busca espiritual havia-se tornado uma obsessão, a beatitude chegara a um limite incompreensível – mesmo para ela, companheira de casa e estúdio. É a fase mística da carreira, com pelo menos um disco excepcional (embora complexo): Ascension, publicado um ano antes de sua morte. E o quarteto está lá: McCoy Tyner, Jimmy Garrison e Elvin Jones. Sim, há mais gente.

Tenho 68 discos de John Coltrane – entre cedês e elepês. Difícil dizer de qual gosto mais. Caso fosse necessário escolher um, eu apostaria em Olé, disco de 1961 com apenas 3 faixas (4 em cedê: To Her Ladyship como faixa-bônus). É um monumento, o apogeu criativo tanto na confecção quanto na execução. Coltrane ao lado de dois gigantes: Freddie Hubbard, no trompete, e Eric Dolphy, na flauta. E McCoy Tyner, o pianista, quase rouba a cena. Se duvida (novamente), clique no título do disco. Escolhi Olé, mas poderia ter escolhido Giant Steps, My Favourite Things, Ballads, Live in Seattle, Soultrane, Coltrane plays the Blues e por aí vai. Melhor parar por aqui.

A única antologia, por enquanto

Vamos ao óbvio: só se deve enumerar um artigo se houver outros exemplares dele. Se for único, não faz sentido chamá-lo “primeiro”. Sim, falei algo dispensável, implícito em qualquer discurso. A editora Paz  e Terra, entretanto, pensa diferentemente. Aliás, sendo honesto: o problema não é da editora brasileira, mas da própria revista mundialmente conhecida e respeitada: The New York Review of Books. Vou explicar: em 1997, adquiri um livro que saía do forno: a edição brasileira de uma reunião de artigos publicados, por 30 anos, do citado veículo.

Se você que está lendo se interessa por cultura, arte, política, sociologia e uns nacos de filosofia vai apreciar a seleção de artigos feita por Robert Silvers, Barbara Epstein e Rea Hederman. Algumas perguntas iniciais devem ser feitas. Quem escreve? Sobre o que e sobre quem se escreve? Como se escreve? Esta última pergunta é fácil de responder: escreve-se bem. Alguns textos são absurdamente bem escritos – chega a dar inveja, ao menos a mim. As duas primeiras perguntas podem ser respondidas ao mesmo tempo.

Para se ter uma breve ideia: o crítico de arte Robert Hughes escreve sobre Andy Warhol; o poeta Wystan Auden versa sobre enxaquecas, enquanto o polêmico Gore Vidal fala sobre aviação em A Paixão de Voar. É um prazer saborear cada parágrafo da entrevista que o maestro Robert Craft faz com o sempre genial Igor Stravinski: o assunto é Beethoven e suas sinfonias. Richard Ellmann, claro, fala sobre Joyce, e meu texto preferido, Balzac aos trinta anos, é escrito pelo brilhante crítico inglês V. S. Pritchett.

Falei em preferência textual, mas é difícil escolher, dentre 23 artigos, qual o mais interessante. Eu não conheço uma revista literária com tamanha envergadura intelectual, capaz de abraçar tanto talento pontuando ideias que interessam não somente aos iniciados, mas a qualquer um que enxergue na boa leitura prazer e benefícios. Em tempos de boçalidade escrita e falada, de superficialidade de ideias, de enaltecimento dos medíocres, o New York Review of Books é um foco necessário de resistência.

As mulheres de Guerreiro

O fotógrafo Antônio Guerreiro viveu bem. Filho de milionário, desfrutou de uma cobertura, no Leme, na qual fez inúmeras festas para as beldades e socialites cariocas, todas sequiosas por um clique, um flash. Fotografou belíssimas mulheres, quase todas famosas que, por meio de suas lentes e de seu talento, ficaram ainda mais belas – como se isso fosse possível. Era. Divertiu-se naquele Rio de Janeiro que não existe mais: marcado pelo glamour, pela sexualidade transbordante, pela valorização da estética, pela beleza feminina. Três delas, abaixo:

Antônio Guerreiro foi casado com duas belíssimas mulheres – uma de cada vez, evidentemente. Sônia Braga – que recentemente visitou as páginas deste blogue – e Sandra Bréa, um dos mis belos rostos da tevê. Além da morenice, do mesmo marido e das iniciais, as duas tinham em comum a sensualidade que Guerreiro soube explorar ao extremo. É só conferir, abaixo:

Sônia Braga em 1980, quando era casada com Guerreiro (Foto: Reprodução/Vogue Brasil)

As atrizes Dina Sfat e Maitê Proença foram dois exemplos de que mulheres bonitas ficam ainda mais belas quando bem fotografadas. A morenice sensual da primeira, potencializada pelos olhos e pela boca entreaberta, sugerem – e isso, claro, é interpretação pessoal – que nada é mais potente, numa fotografia, do que aquilo cada observador é capaz de ver. Maitê, bela e iluminada, expressa alegria, leveza. Guerreiro sabia das coisas.

Nem sei quantas mulheres Antônio Guerreiro fotografou. Oficialmente, foram mais de 600 beldades – entre atrizes, modelos, socialites, gente do mundo da arte e da cultura. Mais de 500 mil clicadas em 25 anos de uma profissão que qualquer um – homem ou mulher – apreciaria ter. Abaixo, a sempre bela Tônia Carrero, a exótica Elke Maravilha, as deslumbrantes Zezé Mota e Bruna Lombardi.

Antônio Guerreiro nasceu em 10 de julho de 1947. Se quiser ter uma boa visão do trabalho de Guerreiro, é só clicar AQUI. Inclusive há uma lista de fotografados, homens e mulheres. Pelo menos metade desse plantel não interessa a esta postagem.

Péret & O Amor

Poetas surrealistas sempre tiveram minha simpatia. Li Breton, Alexandre O’Neill, Apollinaire, Desnos, Élouard. Li também o brasileiro Murilo Mendes e, no início dos anos 2000, caíram-me aos olhos – por pura fortuidade – alguns poemas da escultora mineira Maria Martins. Nada se compara, em minha modestíssima avaliação, aos poemas do francês Benjamin Péret, os quais li, numa tradução de Amor Sublime, livro de poemas e ensaio publicado pela editora Brasiliense, há 37 anos. A propósito: nasceu num 4 de julho, há 123 anos.

Péret, trotskista (como Breton), era um ativista de primeira linha, dotado da charmosa agressividade dos artistas politizados. Envolvido com o movimento surrealista, que ajudara a fundar, era a mente criativa – dentre outras mentes criativas – por trás do periódico La Révolution Surréaliste. A convite do amigo pessoal Mário Pedrosa, seu concunhado, morou no Brasil por três anos, viajou um bocado como etnógrafo, pesquisou, encantou-se com o povo nordestino até ser expulso formalmente por Getúlio Vargas.

Amor Sublime é um livraço. No original, Je Sublime e Un Point c’Est Tout: poemas de força literária invulgar, cheio de imagens que, à leitura desavisada, não agradam imediatamente. Péret deve, penso, ser lido devagar, com a lentidão que auxilia a absorção plena. Versos longos, nem sempre pontuados, exigindo que o leitor estabeleça com o texto a cumplicidade necessária. Desde que adquiri o livro – em fins dos anos 1980 – vou (re)lendo devagar, poema a poema, indo e voltando como textos de mão dupla.

O ensaio O Núcleo do Cometa é uma obra-prima. Seu tema é o amor e quem já dele falou: de Santo Agostinho a Platão, passando pelas tábuas de Moisés, Baudelaire, Stendhal, Tolstói, Rousseau e mais um punhado de citados que, numa algazarra bem ordenada, ilustram um dos textos que deveriam ser lidos por todos os interessados em afeto e em seus desdobramentos.

E ainda nos revela isto: “A sociedade permite livre curso a todas as formas de amor, exceto ao amor sublime, para cujo triunfo ela antepõe todos os vetos, pois ele tende a desagregá-la ao revelar aos homens a felicidade à margem dela e de seus ideais. É por isso que os homens apelam sem cessar para a voz dos poetas e dos artistas.” É isso aí, Benjamin.

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