200 anos da Vênus
A Vênus de Milo é – provavelmente! -, ao lado de David, Moisés e Pietá, todas do gênio Michelangelo, a obra escultural mais famosa que há. Michelangelo era escultural até no nome: Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni. Uma beleza, um monolito vocabular. A Vênus bate O Pensador, de Rodin, a Vitória de Samotrácia, o Lincoln, de Chester. Não se sabe ao certo quem produziu a Venus de Milo, mas afirmam os estudiosos que ela brotou das mãos engenhosas de Ἀλέξανδρος . Em bom português, Alexandre de Antioquia, escultor daquele período de pouco mais de 450 anos chamado helenístico. O tal Alexandre não fez muita coisa mais. A Vênus é esta mocinha aí embaixo, conhecidíssima:
Difícil ignorá-la. Já foi estampa de camisa, peça publicitária, enredo literário, souvenir, peça de xadrez, modelo para pintores aprendizes, talismãs, anedotas (sobre roer unhas), já virou brinco, pingente, chaveiro. É realmente uma peça popular que, há 200 anos, encanta quem resolve pagar 17 euros para apreciar os quase 73 mil m² do Museu do Louvre, em Paris. Isso, claro, antes do vírus. Sim, 200 anos que foi descoberta (num dia 8 de abril), mas é provável que, como muitas mulheres – e muitos homens também -, esconda a verdadeira idade: a Vênus tem 2000 anos a mais.
Vi essa moça no Louvre, em 1994. Tem 2 metros de altura e certamente não perdeu a pose nesses 26 anos. É imponente, marmórea, esbranquiçada, necessita de cuidados e é, por isso, paparicada ao extremo. Pareceu-me, quando nos vimos pela primeira e única vez, ignorar a presença de quem quer que seja, mantendo-se Vênus, deusa da beleza, intocada mas nem por isso deixando de despertar desejos (alguns obscuros, imagino) em quem, diante dela, resolve fitá-la. É uma experiência necessária. Ah, só para constar: Milo é um local; na verdade uma ilha vulcânica situada no arquipélago de Cíclades, no Mar Egeu. Não, não estive lá. Não conheço a Grécia, mas a internet conhece.